Nos meados de 1987, recebi um ofício assinado pelo professor Marcelo Palmério, diretor geral da então Fiube (Faculdades Integradas de Uberaba), hoje Universidade de Uberaba. Nesse ofício constava a solicitação de realização de um convênio entre a FMTM (Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro) e a Fiube, a fim de que no então Hospital Escola fosse realizada a parte prática do curso de Enfermagem que a Fiube desejava abrir.
Telefonei ao professor Marcelo e disse a ele que eu levaria o referido ofício a uma reunião da Congregação, a fim de que fosse analisado, interpretado e, por fim, permitida ou não a realização do convênio. O professor Marcelo me disse que, como diretor da FMTM, eu tinha a autonomia para assinar o convênio, independente da apreciação da Congregação. Respondi que a afirmação dele procedia, mas acrescentei que “nem tudo que o administrador pode fazer ele deve fazer”.
Levada à Congregação, por unanimidade, foi rejeitada a solicitação do convênio e proposto à Direção da FMTM para que esta tomasse as providências e medidas necessárias para que este curso fosse criado dentro da FMTM. Um dos professores mais antigos e respeitados da FMTM, presente à reunião, disse: “tempos atrás esta tentativa foi feita e não foi conseguida a aprovação do curso”. Naquela época, ainda muito jovem, respondi ao professor de maneira imprópria e irônica, motivo de vergonha e reconsideração da minha parte, hoje. Uma pessoa madura, educada e prudente, certamente, responderia: “o senhor está correto, mas como a Congregação decidiu pela criação do curso, somente me sobra a possibilidade de tentar mais uma vez, certamente com todas as dificuldades que advirão de criar o curso”. A infeliz resposta que dei ao ilustre professor foi: “tentar o que é fácil não tem valor e, sendo assim, vamos tentar o que é difícil”. Tendo boa memória, também me lembro dos meus atos impensados. Embora, tardiamente, fica aqui o meu pedido de desculpas.
Daí a máxima “juventude tem cura”. Foi então elaborado o projeto de criação do curso de Enfermagem. O principal embasamento: havia, naquela época, cursos de Enfermagem somente em Goiânia, Belo Horizonte, Ribeirão Preto e Alfenas, para citar apenas as cidades mais próximas. Somente o Hospital São Domingos possuía, durante sua fundação, na década de 1950, cerca de 28 enfermeiras, o que lhe permitia ter 28 pares de olhos de donas em todo o hospital.
A maioria dos demais hospitais de Uberaba, em 1987, possuía apenas uma enfermeira. Os demais possuíam duas ou nenhuma enfermeira nos seus quadros. Estava assim caracterizada a necessidade do curso superior de Enfermagem, devido à extrema e evidente carência regional. Acompanhamos de perto, através de várias visitas, a tramitação do processo junto ao MEC e ao Conselho Federal de Educação, hoje Conselho Nacional de Educação. Em outubro de 1988, recebemos a Comissão Visitadora do MEC, na época representada por duas professoras enfermeiras, Lizete Casagrande e Maria Lúcia Cardoso, ambas de Ribeirão Preto. No final de novembro, houve a aprovação do curso, com publicação no Diário Oficial da União, com tempo suficiente para elaborar o edital do vestibular, agora simultaneamente com o de Medicina, em dezembro, cujos exames ocorreriam em janeiro de 1989.
O curso de Enfermagem teve a sua primeira turma de formandos em 1992. As duas professoras que integraram a comissão visitadora contribuíram de um modo importante para o crescimento da FMTM. A professora Maria Lúcia, a partir de 1990, foi por muitos anos diretora do Curso de Enfermagem, e a professora Lizete foi docente do Curso de Pós-Graduação da FMTM na Disciplina “Didática Especial e Pedagogia Médica”, onde fui seu aluno em 1998.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
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