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Cursos técnicos: “esse é o caminho”

Publicado em 28/07/2023 às 18:15
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Fidélis Reis, um brilhante uberabense, foi um dos fundadores e primeiro presidente da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, atual ABCZ, um dos fundadores do Banco do Triângulo Mineiro, presidente da Aciu e deputado federal por três mandatos, onde apresentou projetos de ensino técnico profissional. Foi engenheiro agrônomo, formado na primeira e única turma do Instituto Zootécnico de Uberaba, criado em 3 de agosto de 1894, pela lei estadual número 41, de autoria do deputado estadual Alexandre de Sousa Barbosa. Este Instituto foi fechado em 1898, por ordem telegráfica do presidente do Estado, Silviano Brandão, como reação à criação do “Partido da Lavoura”, de Uberaba, que se insurgiu contra a criação de novos impostos. Fidélis, convicto da importância dos cursos técnicos, escreveu para Henry Ford, técnico em mecânica, criador da empresa de automóveis nos EEUU, sobre a criação desses cursos.

Ford foi lacônico na resposta: “esse é o caminho”, carta que se encontra guardada pelo MEC, em Brasília. Fidélis criou o curso de técnico em mecânica e construiu o galpão Henry Ford, na Praça Frei Eugênio, onde o Dr. Adib Jatene aprendeu com Francisco Lopes Veludo a produzir ligas metálicas, utilizadas posteriormente na confecção de válvulas cardíacas.
Os cursos superiores e técnicos são representados por uma pirâmide: a base, larga, demonstra a necessidade de maior número de cursos técnicos e o ápice, fino, representa menor número de cursos superiores necessários. Porém, hoje, há uma inversão: o governo federal gasta mais com cursos superiores, que são muitos, do que com cursos técnicos, fato que não ocorre em países mais evoluídos.

Assim, o Brasil hoje tem número de cursos médicos próximo daqueles existentes na Índia, que tem seis vezes mais a população do Brasil. O número dos cursos de Direito no Brasil, hoje, encontra-se próximo ao número de todos os  cursos de Direito existentes no mundo. 
Como diretor da então FMTM, conheci os quatro Cefets (Centro Federal de Educação Tecnológica), existentes em MG, RJ, BA e PR, sendo este último de excelência, pois tinha acima de 10.000 alunos em cursos técnicos e pouco mais de 2.000 em cursos superiores da área tecnológica, tendo se transformado em Universidade Federal Tecnológica do Paraná, onde constatei que empresas como a Siemens, Phillips e outras, devido às suas necessidades, empregavam os alunos antes do término do curso técnico dos mesmos.

A necessidade de técnicos em Uberaba foi evidenciada na época em que o prefeito Luiz Guaritá Neto trouxe a empresa Black & Decker, pois foram buscados fora da cidade os técnicos em mecânica, informática, eletricidade e eletrônica. Quando ainda adolescente, lembro-me da construção de várias usinas hidroelétricas no Rio Grande, onde as turbinas eram montadas por técnicos, geralmente alemães ou japoneses, pois os engenheiros não tinham formação para tal.

Duas abordagens diferentes sobre o desemprego no Brasil:

Há um conceito na sociedade brasileira onde se acredita que a obtenção de diploma de curso superior seja sinônimo de sucesso profissional, mas há, no momento, muitos profissionais com cursos superiores sem mercado de trabalho. Também não se divulga quantos desempregados têm uma profissão definida, pois grande parte não tem qualificação ou conhecimento, o que dificulta a contratação;
Se a tal desigualdade de renda é a responsável pelo desemprego, é contraposta por estatísticas já demonstradas pelo sociólogo Christopher Jencks, pois só seria reduzida essa desigualdade em cerca de 9% se todas as pessoas tivessem o mesmíssimo nível educacional, e número maior de escolas e faculdades não determina maior igualdade de renda.
Cursos de técnicos capacitam maior número de pessoas, atendem às necessidades do mercado de trabalho e geram maior número de empregos com menor custo.

Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM

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