Foi uma das personagens mais importantes da história de Uberaba, seja como médico, professor, produtor rural, político, empreendedor. Formado pela Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, hoje UFRJ, em 1944, dotado de uma memória admirável e capacidade de argumentar, usava uma linguagem simples, sempre cheia de exemplos práticos. Nos dias atuais, eu o chamaria de “influencer”, pela sua capacidade de formar opiniões.
Eu o conheci em 1967, quando cursava o terceiro ano médico. Em aula de Semiologia Médica, abordou o diagnóstico, através do eletrocardiograma (ECG), do paciente ser de baixa estatura e pícnico (brevilíneo) ou magro e alto (longilíneo astênico). Comentou que os primeiros a fazer esse diagnóstico pelo ECG foram os médicos mexicanos, menosprezados pelos americanos, que disseram: “os mexicanos são apenas indígenas”.
Porém, através dos vetores fornecidos pelo ECG, é corriqueiro hoje e sabedor de todos que os mexicanos estavam certos.
Ainda em 1967, houve a doação do quarteirão de 19.000 metros quadrados, onde se situava a antiga Santa Casa de Misericórdia, para a FMTM, do governo federal. Para que isso ocorresse, o Conselho da Santa Casa teve que autorizar. Dr. Randolfo, também conselheiro, estava presente a essa reunião nos relatou o ocorrido. Houve um impasse. Vários conselheiros disseram: “conseguimos esse patrimônio com muita dificuldade e agora doamos o mesmo de graça?”.
Dr. José Ferreira, conselheiro, então disse: “aproveitemos esse momento de insanidade do governo federal e façamos imediatamente a doação, antes que ele se arrependa”. Assim foi doada a referida área. As décadas seguintes mostraram que as Santas Casas são deficitárias e lutam para permanecerem abertas. Dr. José Ferreira estava certo.
A coragem somente é demonstrada quando o ambiente é hostil e agressivo.
Dr. Randolfo tinha adversários políticos, que o temiam, pois as colocações feitas por ele obedeciam a uma tríade: “o ataque deve ser feito em aberto, pela frente e na vertical”. Dentro da FMTM, certa vez, ele se referiu a um deles: “ele é beligerante, querelante e valente à distância, conforme a página 142 do livro de Manual de Psicologia Jurídica, de Emilio Mira y López”.
Em 1988, como diretor da FMTM, fui com Dr. Randolfo ao HC da USP, encontrar o Dr. Adib Jatene. Finalidade: solicitar doações de aparelhos radiológicos que, após 5 anos de uso, são doados. Nada conseguimos, pois eram doados para instituições paulistas do interior.
Mas Dr. Randolfo, em certo momento, disse: “Adib, estou sabendo que seu filho Fábio, cirurgião cardíaco, está bem, buzinando nos seus calcanhares, pedindo passagem. Dê passagem para ele”. Hoje, Fábio é o professor titular de Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina da USP.
Os colegas médicos mais idosos se lembram que fomos ensinados pela coleção de livros de Semiologia Médica do Vieira Romeiro a aprender os sinais e sintomas das doenças. Dr. Randolfo era a síntese e a presença desses livros, devido à sua perspicácia e sua astúcia, associadas à sua capacidade e ao seu desejo de ensinar. Daí ser merecedor dos adjetivos “notável e notório conhecedor da Clínica Médica”.
Arnaldo Manoel de Souza Machado Borges me relatou que, certa vez, o Dr. Adib Jatene lhe disse: “ao longo da minha vida, o Randolfo foi o médico que conheci que mais sabia Medicina”.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
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