NILSON ROSO

É mais lucrativo produzir no Paraguai

Nilson Roso
Publicado em 24/02/2023 às 20:19
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Desde 1990 tenho quatro granjas de integração para a produção de frangos de corte. Neste sistema, o integrado fornece os galpões, a mão de obra e toda a infraestrutura necessária, enquanto a integradora fornece os pintinhos, a ração, os medicamentos e a orientação técnica.

O pagamento é obtido por fórmulas que se baseiam na conversão de ganho de peso e no consumo de ração. Naquela época, a empresa integradora era a Ibirapuera, que foi adquirida pela argentina “Da Granja”, que foi vendida para a atual Seara/JBS. Até o início de 2018, os frangos eram das raças de alto ganho de peso, chamadas de “frango branco”, quando então iniciou a produção do “frango vermelho” ou “semicaipira”. Como estes são muito rústicos, o ganho de peso diário é menor e a permanência dos mesmos na granja, até o abate, é maior.

A grande diferença é o manejo dos mesmos, pois necessitam, após 30 dias, de uma área externa à granja, onde, enfim, podem se movimentar, pastar e se exercitar. A empresa desativou comigo a integração do frango branco, colocando o “semicaipira”, que necessita de um piquete fora do galpão, que, para ser construído, precisa de duas cercas de telas, a fim de promover a proteção biológica dos animais. Procurei, então, adquirir as referidas telas e, após pesquisas pela internet, verifiquei que o menor preço era de uma fábrica no Estado do Paraná.

Algumas semanas após o fechamento da compra das telas, em um sábado à tarde, recebi o caminhão carregado das telas adquiridas. Após a descarga das mesmas, fiquei conversando com o caminhoneiro, que era também o proprietário da fábrica das telas. Este se mostrou muito comunicativo, falando com sotaque gaúcho. Perguntei onde ele morava e a resposta foi que morava em Medianeira, situada entre Foz do Iguaçu e Cascavel, PR. Perguntei se a fábrica também estava em Medianeira e, para espanto meu, a resposta dada foi que a fábrica se situava no Paraguai. Perguntei-lhe o porquê. Mais do que uma explicação, obtive uma justificativa, uma verdadeira aula de economia. As colocações foram simples e objetivas:

1- “se a fábrica estiver no Brasil, ao adquirir o aço da empresa “Belgo Mineira”, pagarei mais caro, mas se estiver a fábrica no Paraguai, havendo estímulos e isenções de impostos no Brasil para exportação, pagarei menos no Paraguai do que se estivesse no Brasil”;

2- “uma vez produzida a tela, há isenções de impostos no Paraguai para a exportação e, assim, terei um preço de venda mais competitivo do que se produzisse no Brasil”;

3- “a energia elétrica vendida no Brasil é muito mais cara que a vendida no Paraguai, ou seja, pago no Paraguai apenas 25% do valor que eu pagaria no Brasil”;

4- “como há uma média histórica do consumo de energia elétrica pela fábrica, se eu pagar o mês antecipado, pagarei apenas 20% do valor que eu pagaria no Brasil”.

A todas estas informações colhidas chamamos de “Síndrome do Custo Brasil”, onde o exemplo máximo é o minério de ferro vendido para a China, viajando quase 20.000 quilômetros, mas, uma vez transformado em aço, viaja de volta e é vendido dentro do Brasil com preço abaixo do aço produzido aqui. Estas situações já existem há décadas e não encontro justificativas para tal fato. Talvez porque eu seja médico e não seja economista, mas entendo que a finalidade de uma atividade empresarial é gerar empregos e, nos casos relatados, está havendo geração de empregos no Paraguai e na China.

“ACORDA PARA A COMPETIÇÃO, BRASIL”!

 Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM

n.roso@me.com
 

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