“Aquele que age corretamente é o seu próprio advogado”. Essa afirmação é importante, pois nos protege das tiranias a que estamos submetidos, mas, para isso ocorrer, é necessário, para nossa proteção, termos virtudes adquiridas pelo exercício prolongado e que permitem que tomemos a melhor decisão na comunicação, pois hoje estamos sendo julgados pelas nossas palavras e essas, bem colocadas, nos afastam do provérbio “prego que coloca a cabeça fora da taboa, recebe martelada”. Cidadãos livres e de bons costumes sabem “levantar templos à virtude e cavar masmorras ao vício”. Virtude e vício são antagônicos. Virtude é realizar o bem, sobretudo com alegria e perseverança, mesmo que seja ao preço de sacrifícios e, apesar das resistências, tanto interiores quanto exteriores. O oposto da virtude é o vício, uma vida sem busca de qualidade. As virtudes NATURAIS dizem respeito à relação do ser humano: prudência, moderação, justiça e força.
PRUDÊNCIA: é a virtude que implica em conhecimento e sabedoria em busca da razão, ou seja, procurando a melhor solução que promova o bem comum. Está ligada ao discernimento, à cognição e à expertise. Enfim, sempre procura saber quais os desdobramentos de uma tomada de decisão. Aquele que souber se comunicar e tomar decisões que não levem a consequentes males, será adjetivado de prudente.
MODERAÇÃO: é a virtude onde a vontade domina os instintos:
– impede que raciocinemos com o fígado, com respostas erradamente adrenérgicas pelo domínio da suprarrenal sobre o cérebro;
– é a assertividade nos ensinando “quem não sabe ouvir não sabe se defender”;
– impede que o democrático debate se transforme no desagregador embate;
– não havendo moderação no embate, há alteração da altura e do tom de voz e da expressão facial, demonstrando o descontrole, situação bem definida pelo curso “Gestão de conflitos” da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg).
Há pouco mais de uma década, assistimos pela TV as entrevistas e debates do Dr. Enéas, candidato a presidente da República. Ao assistirmos hoje os seus vídeos, verificamos que os argumentos por ele apresentados têm fundamentos, mas na época eram desacreditados, pois Enéas gesticulava muito, com enorme barba, falava em tom excessivamente alto, quase histriônico, além da língua portuguesa rebuscada, fugindo à linguagem normal da comunicação. Devido à soma desses aspectos, ouvi várias pessoas comentarem: “esse cara é louco”. Ou seja, a falta de moderação ao falar tirou a credibilidade das suas palavras. Não basta apenas a prudência procurar a razão, pois é a moderação que permite a prudência ser compreendida.
JUSTIÇA: é a virtude que dá ao cidadão aquilo que ele tem direito. Assim, todo profissional precisa aprender a conviver com o sucesso dos outros colegas, porque aqueles que desempenham melhor a profissão têm o mérito por conseguirem os melhores resultados.
FORÇA: é a resiliência que assegura a constância na procura do bem comum, mantendo vivas as outras três virtudes.
Levantar templos à virtude possui vários ingredientes, onde um desses é o ensinamento de Aristóteles: “o ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete”.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com