Dr. Antônio Justino Fonseca de Figueiredo, ou simplesmente Justino, era um colega ortopedista que chegou em Uberaba no final da década de 1970. Certa vez, conversando comigo, sob a ótica dele, classificou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) em:
“1- SEM TERRA: são os trabalhadores rurais que tinham a terra, mas ficaram sem as mesmas. Exemplo: mais de 1.000 produtores rurais foram desapropriados e retirados quando a hidrelétrica de Itaipu foi criada, devido à grande inundação da área. Esses produtores moravam e produziam na área que foi inundada e são os verdadeiros SEM TERRA;
2- POSSEIROS: são aqueles que também têm vocação para produzir, embora não tenham a documentação legal de posse da terra, devendo ser tratados com carinho e atenção, pois estão com suas famílias trabalhando a terra;
3- GRILEIROS: são malfeitores, pois invadem as terras, da União ou de posseiros. O mais grave: matam posseiros, procuram legalizar a terra e em seguida a vendem;
4- INVASORES: não têm nenhuma vocação para a produção rural. São aventureiros, procurando ganhar algo que, de repente, surgiu. Ao tomar conhecimento de que uma propriedade foi invadida, imediatamente para lá se deslocam e montam barracas, mas seus carros estacionados tinham placas de Santo André, São Bernardo e São Caetano”, segundo Justino, fato ocorrido na invasão de propriedade da família dele em Araçatuba, SP.
Há cerca de 15 anos, pessoa de meu relacionamento me relatou o fato abaixo:
“Ao tomar o meu assento no ônibus noturno que me traria de Belo Horizonte para Uberaba, notei que cerca de 15 pessoas, já assentadas, estavam com fone de ouvido ligado a um pequeno gravador. Em torno das 2h horas da manhã, o ônibus parou em posto de combustível, quando tive a oportunidade de lhes perguntar o motivo do uso do fone de ouvido e do gravador. A resposta: “somos do MST e estamos ouvindo as orientações para a invasão de fazenda no município de Iturama”.
Este relato demonstra que o MST não é amador e nem age por instintos, pois é profissional e com hierarquia, o que é próprio de uma organização política.
O MST teve sua gestação no período de 1979 a 1984 e foi criado no Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que se realizou de 21 a 24 de janeiro de 1984, em Cascavel, PR. Não há uma linha divisória clara entre as criticadas ações do MST e do PT. Em 1989, o PT, a fim de “tirar o poder financeiro e político dos coronéis do cacau” na Bahia, trouxe a doença “vassoura de bruxa” da Amazônia, causando também o “efeito colateral” do desemprego dos trabalhadores. Tal ação pode ser analisada no YouTube “O nó. Ato humano deliberado”, ou pelo Google, ao acessar “PT e a vassoura de bruxa na Bahia”, ou ainda reportagem da época da revista Veja, intitulada “Terrorismo biológico”, assinada pelo jornalista Policarpo Júnior, denunciando que “praga, conhecida como vassoura de bruxa, que dizimou plantações de cacau no sul da Bahia, foi parte de plano idealizado pelo petista Geraldo Simões, compadre do presidente Lula”. Henrique Franco Timóteo, baiano, técnico em administração e militante do PDT, disse ter se “unido a outros quatro amigos do PT para contaminar as plantações de cacau no sul da Bahia”. Deduzo que o PT foi o precursor de atos nada elogiáveis, o que serviu de paradigma para ações futuras do MST, onde as ações ideológicas de ambos não visaram o bem comum e nem o respeito à propriedade alheia. MST é a amante que o PT sempre procurou esconder e assentou 700.000 famílias, mas não entregou documentação da posse legal da terra às mesmas, o que permitiu o eterno controle sobre os assentados, privando-os de liberdade e de autodeterminação.
Recentemente, o presidente Lula disse: “há muita terra improdutiva no Brasil e o MST não precisará mais invadir terras”. A pergunta: distribuídas as terras improdutivas ao MST, não haverá mais invasão de terras produtivas?
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com
