Essa frase é da professora Lizete Casagrande, responsável pela Disciplina de Didática Especial e Pedagogia Médica, em 1998, ouvida por mim quando era aluno da pós-graduação na então FMTM. A interpretação que dei a esta frase: “atitudes de pessoas sabidamente diferenciadas no aspecto intelectual e que, em determinado momento, dão uma resposta com atitude inesperada, contrariando expectativa positiva que resguarde a prudência (a procura dos fatos através da razão) e a moderação (não falar com impetuosidade, não falar com o fígado e nem com a suprarrenal, despejando adrenalina), duas virtudes essenciais para o relacionamento humano”. Não foram bons em todos os níveis: Rui Barbosa, Sérgio Moro e Steve Jobs.
Rui Barbosa notabilizou-se pela defesa do princípio da diplomacia e era um excelente criador de slogans, orador, político, jornalista, escritor, pensador e uma das maiores inteligências brasileiras em todos os tempos. Estas características lhe permitiam ser um formador de opiniões, pois sempre soube utilizar a lógica do raciocínio. Em 1904, lutando contra a varíola, Oswaldo Cruz propõe a vacinação obrigatória no Rio de Janeiro e, através de lei, em toda a República. Rui Barbosa foi um dos que se opuseram à obrigatoriedade, pois considerava “veneno” a introdução de um vírus no sangue do brasileiro, “em cuja influência existem os mais bem fundados receios de que seja condutora da moléstia, ou da morte”. Com esta manifestação, Rui Barbosa fugiu às suas características de lucidez e, inclusive, por informação a mim passada pelo professor Aluízio Rosa Prata, Rui afirmava que “estas vacinas oriundas dos gringos iriam matar o povo brasileiro”. A vacina antivariólica já tinha sido aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) dos EEUU, fundado em 1862, semelhante à nossa Agência Nacional de Saúde. Rui, ao dizer que a vacina era “veneno”, contrariou os cientistas, comprovou que “não foi bom em todos os níveis”. Com a vacinação, o número de mortes pela varíola diminuiu drasticamente.
A análise sobre o ex-ministro Sérgio Moro é baseada em aspectos técnicos não ideológicos. Ao fazer uma denúncia pública, Moro deveria empregar as observações da prova das três peneiras de Sócrates:
esta denúncia tem fundo de VERDADE?; 2- é NECESSÁRIO fazer essa denúncia?; 3- ao fazer essa denúncia estará realizando um ato de BONDADE?
Se as respostas a estas três perguntas fossem SIM, a denúncia de Moro, publicamente, estaria correta. Moro assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública, no governo do presidente Jair Bolsonaro, onde permaneceu de 1º de janeiro de 2019 até 24 de abril de 2020, quando pediu demissão em entrevista coletiva. Esta é a questão central, pois Moro solicitou publicamente sua demissão de ministro ANTES de solicitar ao Presidente. Enfim, Moro descumpriu pelo menos três dos cinco Princípios da Administração Pública: 1- Impessoalidade (não buscar a realização de fins pessoais); 2- Moralidade (procurar o melhor resultado para a administração); 3- Publicidade (sigilo em casos de segurança nacional).
Moro, ao declarar sua demissão durante a entrevista, antes mesmo de entregar sua demissão formal ao Presidente, estava mais preocupado em explorar do que em esclarecer os fatos, personalizando-os, denegrindo a pessoa do Presidente e, também, a administração pública deste. Enfim, Moro transformou a entrevista em DENÚNCIA, onde se perdeu em assunto puramente doméstico.
Steve Jobs foi diagnosticado com câncer no pâncreas em 2003. Embora fosse um intelectual com alta capacidade de discernimento, por nove meses tentou curas alternativas para a doença. Em entrevista à CBS, o autor disse que a recusa por parte do visionário da tecnologia em aceitar ser tratado por médicos passava pela crença de que, ao não pensar na doença, conseguiria evitá-la com o poder da mente. Sem resultado, procurou a medicina convencional, perdendo tempo importante para o tratamento, sendo submetido tardiamente a uma cirurgia em 2004.
Rui Barbosa, Sérgio Moro e Steve Jobs, dentro de suas formações específicas, foram excelentes profissionais, mas “não foram bons em todos os níveis”.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com