Ozires Silva foi uma das figuras brasileiras mais importantes nos últimos sessenta anos. Foi engenheiro aeronáutico formado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos, SP; presidente e fundador da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), em 1969, por autorização do então presidente da República, Artur da Costa e Silva. Através de privatização parcial da empresa, tornou-a terceira maior fábrica de aeronaves do mundo. Presidiu também a Petrobras, a Varig, foi reitor da Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros, MG), de 2008 a 2018, e depois chanceler da Universidade São Judas. Há uma entrevista de Ozires no YouTube em que lhe fizeram a pergunta: “por que o Brasil até hoje não conseguiu um Prêmio Nobel, fato conseguido por outros países latinos, como Chile, Peru, Colômbia, Venezuela, Argentina e México?”.
Ozires respondeu: “em um jantar, em Estocolmo, eu vi que eu tinha, de repente, três membros do comitê que indica os prêmios Nobel. Daí, fiz esta pergunta para eles. Eles não responderam imediatamente, porque acho que ficaram meio embaraçados. Mas acho que, depois de umas doses de vodca, um deles falou o seguinte: “vou responder sua pergunta.
Vocês, brasileiros, são destruidores de heróis”. Olha, foi uma pancada no estômago. Falei: “por quê?” Ele falou que “todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente aos dos outros países, em particular os Estados Unidos, todo mundo do Brasil jogou pedra. Quando aparece um candidato brasileiro, não tem apoio da população. Parece que o brasileiro desconfia do outro ou tem ciúmes do outro, sei lá o que acontece”. Este fato narrado é estranho e lamentável, mas verdadeiro.
A confirmação que o brasileiro destrói seus heróis foi feita pelo professor Aluízio Rosa Prata, pesquisador visitante da UFTM, formado em 1945 pela antiga Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, hoje UFRJ, que me narrou o fato abaixo, transmitido a ele pelos seus professores do curso médico. Disse-me ele que “Carlos Chagas não foi apenas o descobridor em 1909 da doença que leva o seu nome. Além do diagnóstico da doença de Chagas, relatou com precisão toda a epidemiologia, assim como o tratamento da mesma. Seu nome foi lembrado para o Prêmio Nobel da Medicina, mas houve vozes contrárias dentro da própria classe médica que não apenas não apoiaram o nome, mas que chegaram a se manifestar publicamente contra”. Em 1921, apesar de haver dois brasileiros no comitê julgador, apenas Hilário de Gouveia votou em Chagas.
Trazendo este mesmo raciocínio para a cidade de Uberaba, cito o triste fato de não termos um único deputado, estadual ou federal, o que não ocorreu com cidades que têm menos da metade da população de Uberaba.
Acredito que não há justificativas, mas sim explicações para o ocorrido. Há um embate insano tão intenso entre os políticos de Uberaba que não permite o entendimento entre os mesmos. Se “a política é a arte do possível”, percebe-se que a corrida pelo poder é tão agressiva, que se torna auto e heterofágica, tornando o entendimento impossível entre eles [os políticos], devido à hipertrofia dos egos de cada um, o que não nos permite pensar na falta de heróis, mas pensar na falta de líderes. Este preâmbulo é para perguntar: Uberaba, ao não ter nenhum deputado, também destruiu seus líderes? Ninguém modifica o modo de agir e de pensar enquanto está forte. Se nossa política está fraca, ou enfraquecida, este é o momento de revermos nossos modos de agir e de pensar.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com