A greve deflagrada na FMTM teve a participação apenas dos alunos dos três primeiros anos, o que pressupõe o controle desses alunos, umbilicalmente ligados às disciplinas da área básica, apoiadoras do outro candidato. Os demais alunos não estiveram em greve, mas o comando era feito por cinco alunos do quinto ano. Após o término da greve, fui procurado no gabinete pelos integrantes do comando, que assim se manifestaram:
“Neste período da greve, a professora de Endocrinologia, Dra. Aparecida Barros, deu uma prova e nós, por estarmos em greve, não a fizemos. Pedimos que ela nos desse a prova, mas se negou. Se não fizermos, seremos reprovados. Viemos aqui para saber se o senhor pode nos ajudar”.
Pedi a secretária Lúcia que me ligasse com o Dr. Randolfo, professor titular da disciplina de Clínica Médica. Na frente dos alunos, fiz este diálogo com o Dr. Randolfo:
1- historiei o ocorrido com os cinco alunos;
2- Dr. Randolfo, então, disse: “esses meninos agem e depois não suportam a consequência”;
3- complementei: “Dr. Randolfo, se eu tivesse a idade desses alunos e se colocassem na minha cabeça o que colocaram na cabeça deles, eu pensaria como eles. O que me aborrece é o fato da pessoa responsável por colocar nas cabeças deles saber que não sou o que foi dito a eles, mas esta pessoa se mantém no anonimato e coloca estes alunos em dificuldades. Mas o que o senhor decidir estará decidido”. A prova foi dada e todos foram aprovados.
Dias após, fui procurado pela Diretoria do Centro Acadêmico Gaspar Viana (CAGV), que me expôs: “no período que antecedeu a escolha do diretor, o CAGV contratou um ônibus da Empresa Líder para nos levar a Brasília, a fim de termos uma audiência com as autoridades do MEC. Demos um cheque como pagamento, mas este cheque não tem fundo. Gostaríamos de lhe pedir a possibilidade de cobrir este cheque do CAGV”. Após contato com o diretor do Departamento de Orçamento e Finanças da FMTM, Carlos Antônio Gomes, respondi afirmativamente.
Houve um aluno que fez parte do comando de greve em 1985, formando em 1986. Ele prestou concurso de Residência na área de Clínica Médica. Foi aprovado, mas não classificado. Em maio de 1987, um Residente de Clínica Médica deixou a Residência. A entrada de novos residentes era feita até o mês de março. Portanto, em obediência às normas vigentes, ninguém poderia ser mais chamado. Ele era o próximo da lista. Contrariando as normas, este aluno foi chamado e fez os dois anos de Residência. Apesar dessas minhas condutas, procurando ajudá-lo em duas oportunidades, nunca me cumprimentou. Tenho informações de que é um profissional de sucesso em Ribeirão Preto.
Outro acadêmico esteve no gabinete, pedindo doação de material esportivo para a Atlética do CAGV. Tudo que foi pedido foi concedido: fardas e bolas. O tempo passou e, em uma festa, este acadêmico dizia em voz alta aos presentes: “gente, me disseram que o Dr. Nilson era bravo e eu tinha medo dele. Hoje me pergunto: como é que eu pude ter medo dele?”, disse em gargalhadas. Um atual colega, aluno em 1985, disse-me que eu era chamado pela oposição de “representante da oligarquia uberabense”.
Como juventude tem cura, aqueles acadêmicos que foram contra mim são hoje os meus melhores amigos.
Meu paradigma é o ex-presidente da República, Juscelino Kubitscheck: “se o bem eu não fizer a alguém, o mal não farei também”.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com