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Preferir um candidato autóctone ou um forasteiro?

Nilson de Camargos Roso
n.roso@me.com
Publicado em 10/11/2023 às 18:11
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Era o mês de julho de 1997 quando estive presente na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), São Paulo capital, onde uma banca examinadora, composta por cinco professores, doutores de notório saber, que após assistirem as aulas, examinaram os memoriais de dois candidatos ao cargo de professor titular da disciplina de Anestesiologia. Os dois concorrentes eram José Otávio Costa Auler Júnior e Roberto Simão Mathias. Após quatro integrantes da banca examinadora emitirem as opiniões sobre os currículos e as aulas proferidas pelos candidatos, o presidente da banca examinadora, Luiz Edgard Puech-Leão, professor titular de Clínica Cirúrgica da FMUSP, emitiu sua opinião.

Disse:

“Estamos frente a dois candidatos de trajetórias opostas. Um deles, Roberto, é autóctone, pois se formou na FMUSP, onde fez a sua residência médica em Anestesiologia, assim como o mestrado e o doutorado. Na sequência, se tornou docente da disciplina de Anestesiologia. O outro candidato, José Otávio, se formou em Minas Gerais, na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Daí o seu jeito de ser, com postura e ações de mineiro. Fez a residência em Anestesiologia no Hospital Servidores do Estado de São Paulo, onde se tornou médico intensivista. Posteriormente, se tornou médico da UTI do hospital do INCOR e, na sequência, após obter o mestrado e o doutorado, professor na disciplina de Anestesiologia da FMUSP. Fica a pergunta: o candidato “da casa”, autóctone, deve ser preferido, pois o outro candidato fez um trajeto profissional exatamente ao contrário? Seria o mesmo que preterir os estrangeiros que deixaram o país de origem para morar, trabalhar e engrandecer o Brasil, pois autóctones são somente os indígenas, já presentes antes da descoberta do Brasil. Entendo que a decisão deve ser baseada nos quesitos científicos de cada candidato”.

A escolha final foi por José Otávio, que se formou em 1972, na então FMTM. Foi nesse ano que cheguei em Uberaba, com a cabeça cheia de conhecimentos sobre politraumas e pacientes em estado crítico, trazendo conceitos do coronel Hardaway, médico americano de trauma na guerra do Vietnã.

José Otávio, certo dia, me perguntou sobre ele também ser um anestesiologista. Respondi: “o artista em cena é sempre o cirurgião e o anestesista é o “cameraman”. Mas quanto mais diferenciada for a sociedade, maior é o valor e o reconhecimento do anestesista”.

Os povos autóctones ou “originários” do Brasil não têm um neurônio a menos do que os não originários. Com raras exceções, os índígenas desejam a liberdade para trabalhar e produzir, como já ocorre com os da Chapada dos Parecis, no noroeste do MT, onde cultivam 10.000 hectares de lavoura e com a arrecadação pagam o seu próprio plano de saúde e a previdência social, usufruindo da atual modernidade. A UNICAMP, em 2018, fez vestibular para indígenas (acesse “Unicamp aplica seu primeiro Vestibular Indígena e faz história”). Enfim, IBAMA, FUNAI e ONGs vivem hoje mais DOS originários do que PARA estes povos, dos quais se dizem defensores. Essa é uma verdade que poucos brasileiros percebem, mas lembro que as mentiras dão esperança aos ignorantes mas ofendem os inteligentes.

Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com

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