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Professor Aluízio Prata não aceitou ser ministro da Saúde

Nilson de Camargos Roso
n.roso@me.com
Publicado em 19/07/2024 às 17:41
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O cargo de ministro exige conhecimento da área específica do ministério e também capacidade de chefiar, liderar, planejar, executar e, principalmente, interagir com as demais áreas públicas ou privadas da administração, nacionais ou internacionais. Professor Aluízio tinha todos esses requisitos, conhecendo as necessidades básicas da saúde de pequenas comunidades, assim como as das metrópoles, mas ainda tinha uma característica rara: era um algodão entre os cristais que evitava polêmicas e conflitos, tendo um temperamento ameno, mas associado a uma personalidade forte.

Todos esses atributos ele possuía, mas por duas vezes, conforme me relatou, não aceitou o convite para ser o ministro da Saúde. As explicações ou justificativas dadas por ele seguem abaixo.

“É fácil conseguir para trabalhar no ministério um chefe de Gabinete, um secretário e uma estenodatilógrafa bilíngue, todos de Primeiro Mundo, mas do segundo escalão para baixo os servidores são os mesmos que há uma década ou mais estão dentro do ministério, o que nos permite pensar que é difícil mudar o comportamento das pessoas e a melhora da qualidade dos serviços prestados”.

A analogia que faço desse argumento é similar ao nosso cérebro que deu ordens para pegarmos uma caneta. Essa ordem, para ser cumprida, passa pelos núcleos da base, medula espinhal, plexo braquial e inervação dos tendões da mão, que deverão cumprir a ordem, pegando a caneta. Porém, a ordem vinda do cérebro se dissipa ao passar por tantos setores (servidores do ministério), perdendo sua intensidade e vigor até chegar aos tendões, que não pegarão a caneta, não obedecendo ao cérebro (ministro).

Uma das vezes em que a empresa de Walt Disney estava próxima à bancarrota, ele disse: “levem tudo que tenho, mas deixem meu pessoal”, ou seja, sem recursos humanos capacitados não há como produzir trabalho de qualidade.

De fato, há muitos vícios na Administração Pública que entravam as decisões e os consequentes bons resultados.

Professor Aluízio conhecia bem os sinais e sintomas que compõem essa síndrome que dificulta o bom funcionamento do ministério que tem o maior orçamento do país, mas também os maiores desafios. É antiga a expressão “quem entende de saúde não tem poder político e quem tem poder político não entende nada de saúde”. Professor Aluízio seria uma exceção, pois tinha grande conhecimento de saúde pública, muita amizade e consequente influência nos meios políticos. 

 Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM

n.roso@me.com

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