Na década de 1960, um cirurgião de Uberaba, falecido em 1970, convidou outro da cidade do Rio de Janeiro, figura notável e notória da medicina brasileira. O convidado aqui esteve e fez a cirurgia proposta. O paciente evoluiu bem nos dois primeiros dias, mas no terceiro dia teve morte súbita, provavelmente por embolia pulmonar maciça. O cirurgião convidado não soube do óbito, pois já havia retornado ao Rio. Alguns anos depois, em Congresso de Cirurgia em São Paulo, os cirurgiões se encontraram no saguão do Congresso: o convidado, o que convidou e o que me relatou e presenciou este fato, que ainda se encontra entre nós. O convidado perguntou àquele que o convidou como evoluiu o paciente por ele operado. O que convidou respondeu: “professor, paciente operado pelo senhor somente pode evoluir bem, pois a cirurgia foi um sucesso”. Após o convidado se afastar, o cirurgião que me relatou este fato se dirigiu ao que convidou, lembrando a este que certamente se esquecera que o paciente operado falecera. O que convidou respondeu: “você precisa deixar de ser bobo, pois quem dá notícia ruim é o inimigo, ou seja, para os amigos somente damos boas notícias. Dando notícia ruim a ele, fica difícil convidá-lo para retornar a Uberaba”.
Certa vez, há cerca de 5 anos, presenciei um fato que se encaixa neste relato. Uma cirurgia marcada foi cancelada, pois a Unimed de Ribeirão Preto não liberou todos os procedimentos solicitados pelo cirurgião. A secretária do Serviço de Anestesia constatou este fato no dia anterior à cirurgia, quando a paciente se apresentou para a avaliação pré-anestésica e ainda não havia o atual e bem-sucedido sistema de pré-marcação de cirurgia do Hospital Unimed de Uberaba. A secretária comunicou à paciente a negação dos procedimentos solicitados, pois teve acesso à guia de internação negada. Por consequência, a paciente relatou ao cirurgião o fato de a suspensão da cirurgia ter sido comunicado a ela pela secretária. O cirurgião, inconformado com a suspensão, relatou o fato a terceiros, responsabilizando a secretária do serviço de anestesia pela suspensão. Na realidade, quem deveria comunicar o fato tanto ao cirurgião assim como à paciente seria o próprio serviço do hospital. Como se trata de uma notícia ruim, orientamos a secretária do serviço para não se envolver mais nestas questões, pois, neste caso, “quem deve dar a notícia ruim é a própria operadora ou o hospital”.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com