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Racismo

Nilson de Camargo Roso
n.roso@me.com
Publicado em 22/11/2024 às 19:18
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Racismo é o preconceito contra pessoas a partir do seu tom de pele e traços físicos que remetem a uma raça (etnia é a palavra correta) que é marginalizada, ou seja, vista como inferior e desvalorizada.
Em 1600, no Brasil, 4.000 portugueses moravam com índias. Em 1888, havia cerca de 3,8 milhões de brancos e 4,2 milhões de negros. No final do século 19, chegaram os italianos, para substituir a mão de obra no campo, que se tornou escassa com a libertação dos escravos. No século 20, chegaram europeus de outros países, além dos asiáticos.

Pelo exposto, torna-se fácil compreender por que o brasileiro de hoje é definido como “neto e bisneto de todas as etnias do mundo”. Como não temos um biotipo definido, em decorrência, o passaporte mais falsificado no mundo é o do brasileiro.

No Brasil não há, por parte do governo ou de instituições, a prática do racismo. Pelo contrário. Há inclusive as “cotas raciais”, que privilegiam negros, índios e quilombolas, facilitando suas admissões nos cursos superiores e, inclusive, na pós-graduação “lato sensu”, como nas Residências Médicas.

Idiotas racistas existem no Brasil e em todos os lugares do mundo, sendo alguns manifestos e outros subclínicos, ou seja, silenciosos, não manifestos.

De todos os racismos, o mais descabido é contra os negros, pois, se eles tivessem vindo para a América de modo voluntário e quisessem dominar os que aqui já viviam, haveria compreensão para essa discriminação.

Porém, os negros eram aprisionados por tribos africanas inimigas e vendidos, acorrentados aos navios, que os traziam para o Brasil. Os que adoeciam durante a viagem eram jogados em alto-mar. No Brasil, eram vendidos como escravos. Ora, se eram trazidos contra suas vontades, acorrentados, significa que não desejavam estar no Brasil, pois não eram invasores pertencentes a povos dominadores. Daí, ser racista com aqueles que não pediram e não desejaram estar entre nós, sendo escravos por séculos, é um fato ainda mais grave e inconcebível.

Durante dois períodos, fui diretor da FMTM (1985-1989 e 1993-1997). Durante esses oito anos, nomeei como diretora-geral da Enfermagem do então Hospital Escola a senhora Maria Aparecida Xavier (Dona Cida). Ao convidá-la, não o fiz por ela ser mulher e negra, mas sim por ser competente, dedicada, humilde e trabalhadora incansável. Os predicados dela, que a levaram ao sucesso, incomodavam muitas pessoas. Convidar uma pessoa para ocupar um cargo simplesmente por ser mulher é não ver virtudes no seu trabalho. Idem ao convidar uma pessoa somente por ela ser negra, não enxergando também seus méritos. Dona Cida, mulher e negra, foi nomeada porque tinha os atributos necessários para comandar a Enfermagem.
Acredito que o exemplo ideal de combate ao racismo é aquela situação em que um passageiro preocupado com tempo chuvoso entra no avião, com previsão de mal tempo durante a viagem. Ansioso, pergunta à aeromoça quem é o piloto. A aeromoça responde “é uma pessoa com milhares de horas de voo, tendo recebido o título de melhor do Brasil, o que nos acalma”. Nesse momento, o passageiro foi tranquilizado e não perguntou se quem iria pilotar era homem ou mulher, se era um descendente africano ou se era um branco caucasiano ou se era homo ou heterossexual. Simples: a competência profissional fala mais alto e afasta o racismo, a xenofobia e a homofobia, pois os cidadãos devem ser analisados pelo desempenho e, por consequência, produzir um trabalho de excelência.

Dois negros, notórios e notáveis, são o médico Odo Adão e o ex-ministro Joaquim Barbosa, que demonstraram uma visão mais ampla e profunda sobre o racismo. Ambos já se manifestaram contra as “cotas raciais”, mas favoráveis às “cotas sociais”, pois certamente há pessoas de pele clara e olhos azuis que também são carentes, necessitando de ajuda.

Em 1992 e 1993, assisti a palestras proferidas pelo negro e mestre de obras Olivério Nery, em que o assunto abordado foi “a escravidão no Brasil”. Ele conseguiu o que é quase impossível: falar de racismo sem qualquer racismo. No final, ele concluía: “o povo negro é bom e alegre, precisando apenas que se dê a ele uma oportunidade de trabalho”.

Morgan Freeman nos ensina a combater o racismo: “o dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece”.

 Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM

n.roso@me.com

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