Juscelino Kubitscheck de Oliveira, JK, foi presidente do Brasil no período de 31.01.1956 a 31.01.1961. Melhorou energia, transporte, alimentação, indústria de base, educação e a meta-síntese: a construção de Brasília, capital que não estaria tão vulnerável em caso de guerra, onde a pressão popular sobre o governo seria menor e iria contribuir para a ocupação do interior brasileiro. Seu plano de metas era “crescer 50 anos em cinco”. Porém, houve falta de planejamento financeiro, recursos mal administrados, gastos desenfreados e verbas desviadas. A inflação disparou e aumentou a desigualdade social.
A maioria dos adolescentes é contestadora e não apoia as ações das autoridades constituídas. Sendo adolescente na época de JK, desacreditei na seriedade dele. Mas, hoje, na senescência, já curado da minha juventude, revi os conceitos sobre ele:
quando prefeito de Belo Horizonte, propôs quatro pistas de rolamento para cada lado de uma avenida em construção. Um vereador chegou a solicitar seu “impeachment” por isso. Após décadas, foi feita a desapropriação para alargar a avenida, que passou de duas para quatro pistas, o que demonstrou sua visão de futuro;
2- como era médico e prefeito de BH, não aceitou o pedido da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) para criticar as chamadas “curas” de Zé Arigó, em Congonhas do Campo. Por isso, foi expulso da AMMG, mas, quando presidente da República, em reunião festiva, foi readmitido;
3- sabendo que o Congresso Nacional era contra a transferência da capital do Rio para Brasília, elaborou um abaixo-assinado onde o parlamentar que fosse contra a transferência deveria assiná-lo, o que fez a oposição recuar;
4- permitiu que o servidor público federal que aceitasse ser transferido do Rio para Brasília ganhasse o dobro e férias a cada 6 meses;
5- houve corrupção durante a construção de Brasília, o que promoveu o chamamento maciço de pessoas. Foi a condenável aplicação do princípio “exitus acta probat”: os fins justificam os meios. É lamentável dizer que sem a corrupção permissiva, Brasília dificilmente seria erguida;
6- como presidente, visitou a Universidade Federal de Minas Gerais. No auditório, completamente lotado, recebeu 4 minutos de vaias. Após cessarem, disse: “feliz é o país onde seus cidadãos podem vaiar o seu Presidente e sabem que por isso não receberão qualquer represália por parte do mesmo”. Houve 4 minutos de aplausos;
7- durante as audiências em seu gabinete, solicitava às senhoras que serviam café às pessoas que o aguardavam na antessala para prestarem bastante atenção nas conversas, pois, como o presidente já tinha problemas, muitos não chegavam ao seu conhecimento. Certa vez, foi encontrado em reunião com as cozinheiras. Tinha então uma fonte oficiosa de informações, o que mantinha seu cordão umbilical ligado aos sentimentos do povo;
8- com direitos políticos cassados pelo governo militar, vinha caminhando pela calçada no Rio quando viu, a 50 metros, vindo em sua direção, uma pessoa que sempre julgou ser sua amiga. Essa pessoa, quando o viu, abaixou a cabeça e atravessou a rua, evitando-o;
9- certa vez, retornava à Brasília, em voo em pequeno aeroplano monomotor. Estava próximo a Brasília e o piloto pediu pista de modo emergencial, avisando que tinha a bordo o ex-presidente JK e que o combustível estava acabando. Já era noite, mas apagaram as luzes da pista do aeroporto. O piloto se dirigiu até Luziânia, cidade goiana próxima, onde, após falar com um radioamador, carros se dirigiram para uma estrada de terra e iluminaram a mesma, permitindo a aterrissagem;
10- é agregadora, envolvente e democrática a frase dita por ele: “se o bem eu não fizer a alguém, o mal não farei também”. Essa atitude evitou que houvesse discussões e embates, mesmo com seus mais aguerridos inimigos e adversários.
Procuramos homenageá-lo por meio de suas filhas Marcia e Maria Estela, que estiveram presentes em meu segundo mandato na FMTM, quando colocamos seu busto em frente ao prédio do campus I da hoje UFTM, na praça Manoel Terra.
Nenhum governante é perfeito e cada um tem sua cota de erro para gastar. JK gastou apenas a sua cota. Recebeu um país em crise, onde muitos acreditavam que não terminasse o seu mandato. Mas, graças às suas atitudes e seu temperamento, entregou ao sucessor um Brasil pacificado, unido, sem traumas. Morreu em 1976, sem deixar fortuna.
Como presidente da República, soube, entre outras virtudes, ser aglutinador de pessoas e de ideias, com capacidade de administrar conflitos e confrontos entre os Três Poderes. Sentimos falta de um JK nos dias de hoje.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM
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