Em 2019, a grande imprensa do Brasil comentou os 60 anos da revolução cubana e os 55 anos da ditadura brasileira, mas não esclareceu que:
1- em 2019, a revolução cubana, que assumira o poder em 1969, ainda mantinha o poder por 60 anos, enquanto a ditadura brasileira, ocorrida em 1964, entregou o poder em 1985, durando 21 anos. Motivo da revolução cubana durar até os dias atuais: as ditaduras da esquerda somente se degradam por outro poder bélico ainda maior, enquanto as da direita são biodegradáveis, durando pouco;
2- a expressão “revolução” é amena, mais palatável, romantizando e “justificando” os erros da ditadura;
Características importantes do governo militar no Brasil:
1- milhões de cidadãos, em 1964, foram às ruas, na “marcha com Deus pela família e pela liberdade”, pedindo a intervenção militar, pois o governo de João Goulart dava sinais precisos de instalação da “ditadura do proletariado”, comunista;
2- o então governador Miguel Arraes declarava em Recife, às vésperas de 31 de março: “haverá golpe. Não sabemos se deles ou nosso”. Políticos de esquerda, como Fernando Gabeira, afirma que “haveria golpe, da direita ou da esquerda”;
3- em 31.03.1964, o general Olympio Mourão Filho saiu com sua tropa de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro;
4- dia 1º de abril de 1964: Goulart, presidente da República, e Brizola, vestido de mulher, fugiram do Brasil;
5- dia 2 de abril: Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assume a Presidência da República;
6- dia 9 de abril, Auro de Moura Andrade, senador e presidente do Congresso Nacional, empossa o general Castelo Branco como presidente da República, na presença de Ulisses Guimarães; editorial de Roberto Marinho elogiando essa posse e concordância do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, em depoimento por vídeo;
7- houve a criação de dois partidos políticos: Aliança Renovadora Nacional (Arena), governista, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição;
8- num primeiro momento, os governadores estaduais foram nomeados pelos militares, e depois passaram a ser escolhidos por eleição direta;
9- Castelo Branco pretendia devolver o governo ao país no final de seu mandato, mas faleceu vítima de um acidente aéreo;
10- no governo de Costa e Silva, sucessor de Castelo, iniciaram as guerrilhas e atos de terrorismo, provocando o endurecimento do regime (Ato Institucional Número Cinco);
11- em 1985, o presidente Figueiredo entregou o governo, através de eleição indireta.
Conclusões:
1- no Brasil, os militares assumiram o poder com zero mortes, enquanto Fidel matou 5.000 para assumir, e até sua morte, em 2016, matou 17.000 pessoas. No Brasil, segundo a Human Rights Watch e a Comissão Nacional da Verdade, de Dilma Rousseff, os militares são acusados de 434 desaparecimentos ou mortes;
2- os militares entregaram o poder de modo pacífico, sem revolução da oposição. Desconheço ditaduras de esquerda que fizeram tal ato;
3- “não se estabelece uma ditadura para proteger uma revolução. Faz-se a revolução para instalar a ditadura.” George Orwell. A férrea ditadura cubana, de partido único e presidente vitalício, retirou Cuba de país mais bem classificado na América Latina para os níveis de pobreza, enquanto os militares retiraram o Brasil do 49º lugar da economia mundial e o colocaram no 8º lugar;
4- é necessário admitir erros do governo militar no Brasil, mas, pela ética utilitarista, foi o mal menor, necessário, bastando comparar os fatos e as consequências ocorridos no Brasil e em Cuba, que devem ser analisados sem paixão ou ódio.
PS: Emilio Odebrecht, pai do então presidente Marcelo Odebrecht, respondendo ao juiz Sergio Moro por ocasião da “Lava Jato” em Curitiba, quando lhe foi perguntado o momento em que a empresa se envolveu na corrupção: “na época dos militares, procurei o general responsável pela condução dos processos licitatórios e disse a ele que eu poderia ajudá-lo muito se ele me ajudasse. O general tirou o revólver do coldre, colocou em cima da mesa e disse para eu repetir. Nada consegui. Porém, com a saída dos militares do poder e a chegada da democracia, tudo ficou fácil”.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com