Regis Ponce é um paulistano consultor residente na Espanha há 21 anos. Em 2021 esteve no Conselho de Administração da Unimed Uberaba, do qual eu fazia parte. Deixou, nos poucos minutos que ali esteve presente, uma mensagem simples, fácil de ser compreendida, mas importante sob todos os aspectos e, portanto, não deve ser esquecida. Ele disse “quando for escolher um colaborador, escolha pelo temperamento.
Se o escolhido não tiver conhecimento, treine-o, qualifique-o, capacite-o, pois terá então alguém com conhecimento e com bom temperamento, pois muitos são contratados apenas pelo conhecimento, mas demitidos pelo temperamento”. Esta orientação é necessária não apenas para o sucesso de uma empresa, mas também para aquele cidadão que inicia sua vida profissional. Sempre nos lembramos de fatos ocorridos que se encaixam nessa mensagem.
É fácil entender que um dos componentes de um casamento viável e duradouro é quando seus parceiros têm bom temperamento. Com frequência, nós nos identificamos e nos tornamos mais próximos dos amigos que têm bom temperamento, que ficam em silêncio quando falamos, não nos interrompendo, sabendo nos ouvir, o que implica em ter inteligência emocional marcante.
A parte posterior da língua é presa pelo músculo genioglosso, mas a ponta dela é livre, significando que quem controla a ponta da língua é o próprio dono. Concluímos que o possuidor de bom temperamento, sabendo ponderar as palavras, controlando a ponta da língua, sabendo se expressar e comunicar, tem mais e melhores amigos, pois quem controla a ponta da língua tem bom temperamento.
Para enriquecer este tema, não recorri à literatura, mas cito os casos de dois cidadãos, intelectuais diferenciados, possuidores de temperamento difícil, impositivo e dominante. O primeiro, quase octogenário, apresentou câncer de próstata. Foi orientado pelo seu médico a fazer um tratamento não cirúrgico, apenas com quimioterapia e radioterapia, pois era um idoso coronariopata, com risco cirúrgico alto, mas respondeu dizendo “câncer bom é aquele que é retirado e jogado numa cesta de lixo. Fiz opção para ser operado com cirurgia robótica, que é menos agressiva ao corpo”. Assim fez, mas no segundo dia de pós-operatório teve infarto agudo do miocárdio, falecendo.
O segundo intelectual tinha arritmia cardíaca grave, o que resultou na indicação de ablação por dois renomados cardiologistas, mas não acatou a orientação. Foi-lhe então prescritas drogas anticoagulantes para evitar o tromboembolismo, frequente nas arritmias graves, mas também não acatou esse tratamento. Dentro da clínica esperada, teve morte súbita, causada ou pela arritmia grave ou pelo tromboembolismo.
Um princípio simples, mas importante, ensina-nos: “aquele que não sabe ouvir não sabe se defender”. As pessoas de bom temperamento sempre sabem ouvir. Esses casos citados comprovam que o bom temperamento independe do nível de intelectualidade e estes intelectuais diferenciados, se ambos tivessem um bom temperamento e se soubessem ouvir os seus médicos, acatando suas orientações, certamente estariam vivendo entre nós até hoje.
Aquele que tem temperamento difícil e agressivo, geralmente acredita que conhece tudo, mas “aquele que diz conhecer tudo nunca aprenderá nada”.