NILSON ROSO

Todo administrador necessita de “ombudsman”

Nilson Roso
Publicado em 17/03/2023 às 19:30
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Ao reassumir o cargo de diretor da FMTM, em 21.10.1993, escrevi um editorial no jornal da faculdade, cujo título era “O Diretor da FMTM necessita de “ombudsman”. Se me lembro bem, o conteúdo do texto era este que segue abaixo, em resumo.

“O ‘ombusdman’ é um jornalista altamente qualificado, contratado por um jornal de grande circulação, possui estabilidade de emprego, podendo ser demitido apenas por justa causa e que faz críticas ao jornal baseado no enfoque que mantenha a visão do leitor. Certamente, ao exercer o cargo de Diretor, cometerei falhas e erros, mas gostaria que fossem a mim apontados, seja através de contato pessoal, seja através de correspondência ou de simples bilhetes. Porém, não gostaria que estas falhas ou erros fossem guardados apenas para serem falados nas Assembleias ou nas reuniões da Congregação, pois, nestas situações, tudo leva a crer que não estão procurando ESCLARECER os fatos, mas sim EXPLORAR os fatos, condição bastante diferente”. Em tempo: a cada trimestre eu recebia um bilhete do colega Professor Sylvio Pontes Prata, sempre elegante, que se tornou o meu “ombusdman” costumeiro.

Sabemos que nos meios acadêmicos de uma universidade federal há um componente político muito forte, onde os mais idosos passam informações parciais, maledicentes ou meias verdades aos alunos, que são incitados a agir. Quem comanda a lança é quem a está segurando pelo cabo, mas a parte que fere e que entra em contato com a vítima é a ponta da lança. Em síntese: o aluno representa a ponta da lança e, nem sempre, aquele que segura a lança aparece em cena, embora seja o responsável pelas ações dos alunos. Quando houve transferência de alunos do curso médico, oriundos de faculdades particulares e que, através de liminares, eram matriculados, os alunos da FMTM (ponta da lança) foram incitados (por aqueles que seguraram o cabo da lança) a se manifestarem contra os transferidos, o que fizeram em atitudes não pensadas, próprias da juventude, pois “constrangeram ilegalmente” os transferidos, seja verbalmente, seja com ofensas morais estampadas em cartazes. Conclusão: alunos foram chamados à Justiça Federal, onde tive a oportunidade de acompanhá-los e defendê-los. É desnecessário dizer que os responsáveis pelo incitamento nem sequer foram citados.

Há necessidade de “ombudsman” também para dirigentes de empresas privadas, pois nestas há grande conflito de interesses, seja por aspectos pessoais, financeiros ou por disputa pelo poder de comando. É necessário saber receber críticas. Uma ex-dirigente da área de Recursos Humanos da FMTM dizia sempre: “graças aos que me criticam, cada dia estou melhor, pois apontam as minhas falhas”. Ela lembrava Santo Agostinho: “prefiro os que me criticam, pois me corrigem, do que aqueles que me bajulam, pois me corrompem”.

No meio político, mais do que nunca, há necessidade do “ombudsman”, pois  geralmente dois diferentes tipos de cidadãos se manifestam sobre o governante:
1- os “eternos puxa-sacos” que dizem estar tudo bem, impedindo o governante de ter uma visão correta da sua administração;

2- os críticos, que geralmente são encarados pelo governante como adversários e não valorizam as informações, tomando-as como agressões.
O presidente Juscelino Kubitscheck, enquanto atendia em seu gabinete, solicitava às senhoras que serviam o cafezinho nas antessalas às pessoas que aguardavam para serem atendidas, para “prestarem bastante atenção na conversa de todas, pois os seus auxiliares diziam que o Presidente tinha problemas demais e impediam que ele se inteirasse de todos os fatos”. Certa vez, Juscelino foi encontrado falando com as cozinheiras. Enfim, ele não tinha “ombudsman”, mas tinha uma linha oficiosa e eficiente de informações.

Também é necessário saber ouvir, pois, “se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe de modo absoluto”. É necessário que o administrador, público ou privado, tenha medo do ridículo, onde todos percebem o que está ocorrendo e apenas o envolvido no ridículo não vê.

 Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM

n.roso@me.com
 

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