Como todo serviço público, o Ministério da Educação (MEC) tinha auditores, servidores da antiga Ciset (Secretaria de Controle Interno), responsável pela auditoria interna das Instituições Federais, pois a externa era feita pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Pelos idos de 1987, o Codesfi (Conselho dos Diretores das Instituições de Ensino Superior Federais Isoladas), do qual a FMTM fazia parte e eu era o diretor, estava reunido com os auditores da Ciset. Nessa reunião foi lembrada a sequência de notas dadas pela Ciset, após as auditorias, às instituições visitadas e auditadas:
certificado pleno: administração exemplar; 2- certificado irregular: falhas de média intensidade da administração; 3- certificado insuficiente: falhas maiores da administração; 4- não emissão de certificado: falhas graves da administração.
Quem comandou essa reunião foi o diretor-geral da Ciset, Dr. Aroldo Mateo Venâncio, argentino que migrou para o Brasil aos nove anos de idade, indo morar na cidade do Rio de Janeiro, onde “cariocalizou-se”, pois, além do sotaque carioca, era muito alegre e um tremendo brincalhão com os argentinos, sempre tirando alguma casquinha nos mesmos. Em certo momento, Dr. Aroldo virou para mim e perguntou “por que a Escola Agrotécnica Federal de Uberaba (hoje IFTM) ao longo da sua história sempre teve nota ‘plena’ da auditoria e há alguns anos tem nota ‘irregular’”. Respondi imediatamente: “foi quando a Agrotécnica começou a crescer”. A justificativa da minha resposta: o poder central sempre foi castrador e limitador de gastos e ampliações das Instituições Federais e a professora Nice Borges Amorim, de modo habilidoso e corajoso, deu enorme impulso às áreas do “campus”, ampliando cursos, fazendo edificações, promovendo a produção agropecuária, além da expansão da área do próprio “campus”. Não estou apregoando a desobediência civil, mas sim fugir das amarras administrativas e legais, pois o administrador não deve participar de campeonato de restrição, pois, entendo que, além do nepotismo evitado, não pode o administrador se vangloriar que suas contas foram aprovadas como “plenas” às custas da instituição não ter obtido nenhuma evolução no seu mandato. Lembro aqui um fato curioso ocorrido com um colega médico de turma que, por duas vezes, foi prefeito de Ubiratã, PR. No seu segundo mandato, de modo prudente e precavido, contratou um servidor aposentado do Tribunal de Contas do Estado do Paraná para que, diariamente, pudesse acompanhar e auditar os balancetes da prefeitura. Mesmo assim, devido às maciças publicações de leis, decretos e portarias, estaduais e federais, alguma irregularidade foi sempre apontada na Prefeitura de Ubiratã. Cada instituição tem o tamanho da mentalidade de quem a dirige. A professora Nice é merecedora da nossa admiração e respeito e, de fato, valeu a pena receber avaliação “irregular”, pois a coragem, associada à competência, traz o sucesso à administração.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com