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Veneno ou defensivo agrícola?

Nilson de Camargos Roso
n.roso@me.com
Publicado em 24/05/2024 às 18:18
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Há duas semanas, circulou a seguinte notícia: “Congresso Nacional derrubou nesta quinta-feira (9) os vetos do presidente Lula (PT) da lei aprovada no final do ano passado que flexibilizou o registro de agrotóxicos no Brasil. Antes da aprovação, o projeto de lei ficou conhecido como PL do Veneno, por representar risco ao meio ambiente e à saúde humana”.

Veneno,  pesticida ou agrotóxico são os nomes dados por pessoas que acreditam no malefício provocado por esses produtos ao ser humano e ao meio ambiente, não abordando os seus efeitos positivos. 
Defensivo agrícola ou produtos fitossanitários são nomes dados por aqueles que acreditam que a somatória dos efeitos positivos desses produtos menos a somatória dos efeitos negativos ainda traz grandes benefícios ao ser humano, salientando que, se usado na dose certa e com os cuidados devidos, são isentos de agressão ao meio ambiente e ao ser humano. São como os medicamentos que, se mal-usados, são danosos.

Vejamos um exemplo prático. Plante um único pé de maracujá. Provavelmente, este dará frutos vigorosos, sem a presença de pragas.

Plante um hectare de maracujá e haverá necessidade de combate às pragas que surgirão, o que demonstra que quanto maior a área plantada, mais pragas ocorrerão. Dos cinco maiores países do mundo em área, o Brasil é o único com clima tropical. Temperaturas altas favorecem a proliferação de fungos, vírus e bactérias, principalmente no Brasil, onde há áreas com duas ou até três colheitas por ano. Daí o alto consumo de defensivos. Como é enorme a extensão do território do Brasil, assim como a área agricultada, certamente há grande consumo de defensivos, o que nos torna, em termos absolutos, o seu maior consumidor do mundo. 

A imagem de que o Brasil é o país que mais utiliza agroquímicos no mundo é desconectada da realidade e apenas alimenta mitos e inverdades sobre a segurança dos alimentos produzidos no país.

O Japão cultiva arroz há milênios. Daí a alta incidência de pragas no arroz, tornando o Japão o maior consumidor de defensivos do mundo por kg/ha/ano, usando oito vezes mais que o Brasil, segundo a Universidade Estadual Paulista, Botucatu. Entenda: o Japão tem a área do Estado do Paraná, sendo 75% de montanhas. O Brasil tendo uma área enorme, a proporção kg/ha/ano de defensivo é menor. Apesar do grande uso de defensivos, o Japão é o país onde o cidadão é o mais longevo (83,7 anos) do mundo, o que demonstra os cuidados na aplicação desses defensivos.

Na proporção do uso de defensivos pela quantidade de terras cultivadas, Brasil fica atrás do Japão, da Alemanha, França, Itália e do Reino Unido. Se o índice considerado for defensivo por alimento produzido, o Brasil cai para 13º lugar.

Nas últimas décadas, surgiu a sigla ESG, em inglês, que reúne as políticas de meio ambiente (Environment), responsabilidade social (Social) e governança (Governance), cada vez mais cobrada nos dias atuais das empresas e envolve a construção de um mundo inclusivo, ético e ambientalmente sustentável, que garanta a qualidade de vida para todos.

Inferência: toda empresa e todo cidadão devem estar comprometidos com a melhora e a segurança do meio ambiente.

Preocupam-me as opiniões dos ambientalistas que vivem sob o ar condicionado, que nunca atolaram no brejo, nunca foram picados ou perseguidos por um enxame de abelhas ou de marimbondos, nunca chegaram à cidade cheirando estrume de vaca e nunca tomaram chuva sem que tivessem um lugar para se esconder. São como professor de natação que nunca entrou na piscina. 

Pode sempre haver erro no exercício de qualquer atividade humana. Assim, também há erros na aplicação de defensivos, com excesso de aplicação, trazendo, neste caso, danos à natureza e, também, malefícios aos alimentos e ao corpo humano.

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, fez uma analogia entre os protetores de mucosa gástrica e os defensivos. Ele lembrou que um dos primeiros protetores foi o omeprazol, seguido do pantoprazol e depois por muitos outros “prazóis”. Cada um novo protetor gástrico lançado no mercado tem vantagens e especificidades sobre os anteriores e não são “novos venenos para a mucosa gástrica”. Assim também são os novos defensivos agrícolas que chegam ao mercado a cada ano.

É bem verdade que as empresas multinacionais têm grande interesse e forte “marketing” na venda dos defensivos. Décadas passadas, quando surgiu a “ferrugem asiática” na soja brasileira, segundo um agrônomo da Embrapa, houve três focos iniciais dessa praga, surgidos simultaneamente a 1.000 quilômetros de distância um do outro. Isto causa estranheza e nos permite pensar em ato criminoso, em favor de vendas do defensivo.
A segurança de um carro não depende apenas da sua estrutura, mas também do modo como o seu motorista o dirige. Assim também são os defensivos, dependendo muito mais de como são aplicados.

 Nilson de Camargos Roso

Doutor em Anestesiologia; professor aposentado pela UFTM

n.roso@me.com

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