Este ano, tive vontade de levar ao conhecimento das pessoas o motivo de comemorarmos o Dia de Minas na data do aniversário da cidade de Mariana. Esta cidade foi simplesmente o primeiro arraial, a primeira vila, a primeira cidade e a primeira capital da Capitania de Minas Gerais. É mais do que justo que neste dia o governo de Minas seja transferido simbolicamente para Mariana, numa homenagem grandiosa que acontece há exatos 43 anos.
O Dia de Minas Gerais, celebrado em 16 de julho, foi instituído em 1979 pela Lei nº 561. A data relembra também a importância e a trajetória de mais de três séculos do nosso Estado e de seu povo.
Minas Gerais abriga campos de extração de inúmeros minérios, principalmente ouro. A designação “minas gerais” surge em oposição às inúmeras minas particulares ou por sua variedade de tipos de minério. Minas é uma das 27 unidades federativas do Brasil, sendo o 4º estado com maior área territorial e o segundo em quantidade de habitantes, distribuídos por 853 municípios.
Minas começou a ganhar autonomia administrativa em 1720, quando se tornou uma capitania própria e foi, por muito tempo, centro econômico brasileiro. O primeiro passo para a autonomia foi resultado do desmembramento da capitania de São Paulo e Minas do Ouro.
Mariana é o “berço da civilização mineira”, aqui compreendidas a tradição cultural e a religiosidade cristã de Minas Gerais. Essa cidade, que carrega orgulhosamente o título de “A primaz de Minas”, foi fundada em 16 de julho de 1696, dia em que a bandeira paulista chefiada pelo coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça chegou a um curso d’água denominado “Ribeirão do Carmo”, por ser aquele dia dedicado a Nossa Senhora do Carmo. Muito naturalmente, a localidade onde hoje se localiza o município, distante apenas 9 quilômetros de Ouro Preto, adotou a santa como sua padroeira.
Em 1711, o Arraial de Ribeirão do Carmo foi elevado à vila, a primeira de Minas, com o nome de Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, e nela se estabeleceu em 1712 a primeira capital da então Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, criada em 1709. A seguir, foi a primeira cidade da Capitania de Minas Gerais, desmembrada da Capitania de São Paulo a partir de 2 de dezembro de 1720 por D. João V de Portugal.
Em 1745, a Vila Real do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo foi elevada à categoria de cidade, com o nome de Mariana, em homenagem à esposa de D. João V, rainha Maria Anna D’Áustria. No mesmo ano, o Papa Bento XIV fez de Mariana a sede do primeiro Bispado de Minas Gerais, desmembrado da diocese do Rio de Janeiro. Cabe ainda acrescentar que, em 1906, Mariana foi julgada digna de se tornar Arcebispado e, em 6 de julho de 1945, em homenagem aos 200 anos de sua elevação à cidade, o presidente Getúlio Vargas erigiu em Monumento Nacional todo o acervo arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Mariana.
Em 16 de julho de 1977, o saudoso professor Roque José de Oliveira Camêllo, então membro da Casa de Cultura de Mariana – Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, durante a sessão comemorativa do 281º aniversário de Mariana, lançou a ideia de se instituir o dia 16 de julho como data cívica estadual. Ele recebeu o apoio do então presidente da Casa, historiador Waldemar de Moura Santos, bem como dos acadêmicos e das autoridades municipais da comunidade marianense.
O projeto foi encaminhado ao Governo do Estado e à Assembleia Legislativa, e o governador Francelino Pereira sancionou a Lei 7.561, em 19 de outubro de 1979, consagrando 16 de julho como Dia do Estado de Minas Gerais, no art. 256 da Constituição Mineira.
Originalmente, tal artigo dizia que o Dia de Minas Gerais era data cívica do Estado e seria celebrado anualmente na cidade de Mariana, com a transferência simbólica da capital para o referido município. Em 16 de julho de 2022, vamos comemorar 43 anos do Dia de Minas e, ao mesmo tempo, 326 anos da fundação de Mariana. Berço de grandes artistas, poetas e escritores, Mariana ainda conserva suas raízes do período colonial, com casarões históricos e igrejas barrocas.
Natural de Mariana, Manuel da Costa Athaíde (1762-1830), conhecido como “Mestre Athaíde”, tornou-se o mais renomado pintor do barroco mineiro, conquistando relevância internacional e projetando a arte de Minas para o mundo.
O Seminário da Arquidiocese de Mariana foi fundado em 20 de dezembro de 1750 pelo primeiro Bispo, Dom Frei Manuel da Cruz. Teve seu período áureo a partir do episcopado de Dom Antônio Ferreira Viçoso, que confiou a direção aos seus confrades da Congregação da Missão. Os lazaristas, ordem trazida ao Brasil por D. João VI para substituir os Jesuítas, dedicaram-se ao referido trabalho durante 113 anos, de 1853 a 1966. Essa instituição foi responsável pela formação de quase a totalidade do clero mineiro colonial e de grandes homens que ocuparam posições de destaque nos campos político e intelectual do Brasil nos períodos colonial e monárquico. Desde 1967, com a saída dos padres lazaristas, o funcionamento do Seminário de Mariana passou às mãos do clero secular. A maior parte dos alunos que frequentaram o seminário de Mariana pertencia às camadas mais ricas da sociedade e teve acesso a uma educação humanista, que tinha por finalidade a formação de uma elite dirigente e culta. Mentes brilhantes passaram por esta instituição e deram valiosa colaboração para o desenvolvimento do país, ocupando cargos relevantes dentro e fora do Estado. Em Uberaba, homens de notório saber, como o advogado de causas cíveis Dr. Mauro Alves Baracho e o professor José Geraldo Guimarães passaram por este educandário.
Encerro essa homenagem ao Estado de Minas Gerais com versos inspirados do poeta maior Carlos Drummond de Andrade:
As montanhas escondem Minas
Ninguém sabe Minas
Só os mineiros sabem e não dizem
Nem a si mesmos o irrevelável segredo
Chamado MINAS.
Olga Maria Frange de Oliveira (autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”; ocupa a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro)