ARTICULISTAS

A presença feminina na História da Música em Uberaba

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 28/07/2020 às 06:57Atualizado em 18/12/2022 às 08:12
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Uberaba é mesmo uma caixa de surpresas! Quando entro no “túnel do tempo” e viajo para o passado musical desta cidade, trago de volta mais e mais nomes de filhos e filhas desta terra abençoada que colaboraram na consolidação da grandeza do setor artístico-musical uberabense.

Depois de ter resgatado dezenove dos mais importantes músicos que atuaram no século passado, estou agora me debruçando sobre as valorosas mulheres que também inscreveram seus nomes na História da Música em Uberaba. Descobri que o elenco feminino, pelo alcance de suas conquistas, nada fica a dever ao masculino.

Numa relação de 16 pioneiras, escolhi três nomes que representariam uma pequena amostra do rico filão que ficou relegado a um passado obscur

1 - A primeira delas é Graziela Lopes Rosa, que, guardadas as devidas proporções, seria a nossa versão de Chiquinha Gonzaga. Foi pianista do Paris-Theatre, em 1909; do Cinema Triângulo, de 1910 a 1913, durante os três primeiros anos do cinema, quando a orquestra esteve sob a regência do violinista Joaquim Gomes Ferreira; do Cinema São Pedro, de Uberabinha, em 1914; do nosso Cine-Politheama, de 1920 a 1927. Ela foi também líder da primeira jazz-band de Uberaba, criada em 1925, considerada excelente. Foi relegada ao ostracismo pela posteridade por puro preconceito, pelo fato de ser mulher e atuar profissionalmente nos palcos.

2 - Branca Caldeira de Barros (1889/1969) – Nossa primeira soprano-lírico. Formada no Instituto Nacional de Música do Rio, na classe da renomada professora Nícia Silva, seguiu para Paris em 1924 para um curso de aperfeiçoamento que se prolongou por cerca de 4 anos. Conquistou o Primeiro Prêmio no Conservatório de Paris. Mereceu os maiores louvores da crítica parisiense, que a apontou como uma das mais perfeitas artistas que Paris conheceu. Construiu uma sólida carreira no Brasil, sendo presença constante nos Teatros do Rio e de São Paulo. Era filha do milionário Major Manoel Caldeira, sócio majoritário da Companhia Força e Luz de Uberaba, que inaugurou a luz elétrica em nossa cidade em 1905, colocando Uberaba na dianteira da conquista da energia elétrica no Triângulo Mineiro.

3 - Nair de Carvalho Medeiros – Seu nome está relacionado entre os pianistas brasileiros virtuoses, que constam nos arquivos da Biblioteca Nacional da França no “Fonds Montpensier: Boite Brésil - Virtuoses”, ao lado de Nelson Freire, Magdalena Tagliaferro, Guiomar Novaes, Dyla Josetti, Souza Lima, José Eduardo Martins, e outros monstros sagrados. Construiu uma meteórica carreira, a partir de Uberaba, onde estudou com Charles Parthon e Joaquina Gomes (irmã de Carlos Gomes), na primeira década do século XX, chegando ao topo na cidade de Paris, em 1926, quando ouviu de Isidor Philipp que ela não teria o que aprender com os mestres franceses, pois já tinha alcançado a excelência na interpretação do piano. Foi convidada para tocar na famosa “Salle Pleyel”, no piano que Chopin se apresentava, privilégio reservado a um número restrito de grandes intérpretes. Ao retornar ao Brasil, pelo porto de Santos, foi recebida com pompa por um grande número de pessoas e autoridades do setor cultural paulista. Para mim, Nair foi a maior pianista uberabense de todos os tempos. Era aparentada com Dinorah de Carvalho e prima de Joubert de Carvalho.

Esses três nomes, pinçados de uma lista onde constam 16 artistas de primeira grandeza, comprovam o número de mulheres fantásticas nascidas em Uberaba que ajudaram a projetar nossa cidade no setor musical em âmbito nacional e internacional.

Olga Maria Frange de Oliveira

Professora de piano, regente do Coral Artístico Uberabense, autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba

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