Certa vez, em amigável colóquio com o saudoso sábio e teólogo dominicano Frei Reginaldo de Sá, descobri que o nome de meu falecido pai, Eudoxio de Oliveira, era de origem grega, cujo significado era “homem justo”. Fiquei remoendo essa informação e pensando no quanto meu pai fez jus a esse nome. Se pudesse traduzir em palavras o caráter dele, seria essa a expressão ideal.
Num momento de rara inspiração, minha mãe resolveu batizar o filho primogênito do casal com o nome do pai. Para ela, que sempre dava a palavra final, seria uma forma de homenagear seu dedicado esposo e, ao mesmo tempo, perpetuar o nome por mais uma geração. Foi assim que meu irmão Eudoxio de Oliveira Junior veio ao mundo em 9 de julho de 1951, sob a égide de um nome forte e pouco comum. Porém, desde então, passou a ser chamado por todos pelo diminutivo carinhoso de “Juninho”. Ao longo de sua vida, o Dr. Eudoxio, médico radiologista, era o mano Juninho, o tio Juninho, o papai Juninho, o primo Juninho, o amigo Juninho, no vasto universo de suas relações.
Dotado de um temperamento alegre e sociável, por onde passava agregava as pessoas à sua volta. Era a turma do colégio, a turma do futebol (torcedor fanático do América mineiro), a turma da faculdade, a turma dos primos, a turma dos amigos de infância em Belo Horizonte, a turma dos colegas de Uberlândia e por aí afora... Era o que eu, de temperamento mais reservado, denominava de “uma festa ambulante”.
Amava passar os fins de semana nas fazendas dos primos Luís Carlos, Cristiano e Fauzinho. Aliás, já vinha de Santos, onde passou a residir, com o carro “abastecido” de mantimentos, bebidas e presentes para todos. A ala feminina da família ganhava sempre perfumes franceses. Era uma alegria só!... Todas as noites os amigos e familiares se reuniam em locais públicos ou residências dos primos e amigos. Até quem não gostava de sair acabava comparecendo. Como recusar? Era um convite do Juninho, ora! Logo, logo, ele voltaria para Santos e deixaria um grande vazio, que só seria preenchido muitos meses depois, quando aqui retornasse. Vinha sempre em janeiro e julho, invariavelmente, para passar dez dias em Uberaba. Isso ele herdou de sua mãe, Olga Frange de Oliveira, nunca mudar seus hábitos.
Trazia na boleia do carro seu filho único, Eduardo Lascane de Oliveira, nascido em Santos (SP), para enturmá-lo com seus primos mineiros e criar vínculos com sua terra natal. Sábia decisão!
No dia 8 de junho próximo passado, aos 65 anos, “encarnou o sonho dos que nunca vão embora, daqueles que sempre estarão presentes em nossos corações”, segundo Jorge Abdanur Estephan. A vida vem com a morte implícita. A morte aguarda, silenciosamente, no intervalo entre cada batida do coração. Nas lápides de todos os cemitérios, o sol, a chuva e o vento, seus dedicados serviçais, vão a cada dia atirando mais nomes e datas à corrente inexorável que movimenta a roda da vida.
Juninho, mano querido, a recordação é o cordão umbilical que nos mantém unidos. Endosso aqui as palavras da poetisa mineira Adélia Prad “Aquilo que a memória ama fica eterno”. Saint-Exupéry foi muito feliz ao traduzir em palavras o que não saberíamos exprimir: “Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo”.
A vida é um constante perder. A vida é, pois, uma constante saudade.
Saudades, meu irmão... e... Feliz Aniversário!!!
(*) Pianista, professora de música, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba