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Arthur Moreira Lima – Um gênio que nos deixou (Parte 1)

Olga Frange
Publicado em 11/11/2024 às 18:52
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Arthur Moreira Lima nasceu em 16 de julho de 1940, no Rio de Janeiro, e faleceu em 30 de outubro de 2024, em Florianópolis. Considerado um dos maiores pianistas brasileiros, saiu de cena aos 84 anos de idade, vítima de câncer no intestino, que tinha sido diagnosticado no ano passado. Moreira Lima morreu após ficar internado por duas semanas lutando incansavelmente pela vida.

A conexão da arte com a música é muito forte na espiritualidade. Ele era um artista muito sensível, um ser humano admirável, humilde, amoroso e divertido. Casou-se com Margareth Garrett e “paternou” seus três enteados com muito amor, consolidando uma feliz união que perdurou por 24 anos.

Dominic Gill, do Financial Times dizia dele: “Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico, fazendo seu instrumento falar”. Ele era uma das estrelas de uma geração brilhante de pianistas brasileiros. Foi aluno de Marguerite Long – a mestra das mestras; namorou a argentina Martha Argerich, a musa máxima do piano; conseguiu o 2º lugar em um concurso internacional sobre a obra de Frédéric Chopin, em Varsóvia. As apresentações no 7º Concurso Internacional de Piano “Frédéric Chopin”, em 1965, projetaram seu talento para o mundo e lhe abriram todas as portas. Essa edição do concurso é histórica. Martha Argerich conquistou o 1º lugar, superando 76 pianistas de 30 países. Arthur ficou em 2º lugar, recebendo uma ovação de 20 minutos por parte de um público seletíssimo. Moreira Lima também se destacou nos Concursos Leeds, na Inglaterra, e Tchaikovsky, em Moscou. Além disso, tornou-se especialista em Villa-Lobos, conquistando a crítica internacional com interpretações excepcionais da produção do grande compositor brasileiro.

Foi considerado um extraordinário intérprete do grande repertório romântico pela crítica mundial, que não poupava elogios à sua sonoridade e ao seu grande virtuosismo.

Assinalando sua nacionalidade, chegou a ser apelidado carinhosamente de “Pelé do Piano” pela tradicional revista francesa “La Suisse”.

Em 1981, Arthur Moreira Lima lançou o registro integral dos “Noturnos” de Chopin, em gravação feita na Califórnia, nos Estados Unidos. A crítica norte-americana reputou esta gravação como o registro pianístico mais importante daquele ano.

Durante os anos 1970, Moreira Lima dividiu-se entre Rússia, França e Brasil, apresentando-se com prestigiadas orquestras europeias, interpretando compositores como Chopin e Franz Liszt com a profundidade e a paixão de um mestre. Paralelamente, participava de gravações de músicas brasileiras, como o álbum dedicado a Ernesto Nazareth, de 1975, amplamente reconhecido como um marco no resgate da obra deste compositor, então pouco lembrado.

Ao longo de sua carreira, foi um defensor incansável da música brasileira, incluindo em seu repertório compositores como Ernesto Nazareth, Elomar, Villa-Lobos e Radamés Gnattalli. Seu piano revelava o coração do Brasil, que pulsava em cada apresentação, engrandecendo a música popular, ao lado das grandes obras da música de concerto.

Nos anos de 1980, iniciou esforços de popularização da música de concerto, destacando-se o programa “Toque de Classe”, na extinta TV Manchete.

Arthur gravou mais de cem discos e se apresentou com as principais orquestras do mundo, incluindo as Filarmônicas de Leningrado, Moscou, Varsóvia, Berlim, Viena e Praga, além da orquestra sinfônica da BBC de Londres e a National de Paris.

Morador de Florianópolis desde 1993, recebeu em 2003 o título de Cidadão Honorário desta capital, refletindo o carinho e o respeito que nutria por sua terra adotiva.

Sua última aparição pública foi em setembro de 2024, em uma cerimônia virtual na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi homenageado com o título de Doutor Honoris Causa, em reconhecimento à sua trajetória artística e por seu papel essencial na popularização da música.

Pablo Rossi, pianista concertista da Orquestra Filarmônica Catarinense (OFIC), lamentou a morte de Moreira Lima e destacou que ele era um dos maiores pianistas da história. Segundo suas palavras: “Sua grandiosidade foi e sempre será exaltada pelo que fez em prol da nossa música, porque ele acreditava no valor da cultura brasileira. Se isso já não bastasse, ele foi um pianista e músico que arrebatou plateias pelo mundo. Como grande intérprete do piano, Arthur foi ovacionado, querido e nunca esquecido pelo público russo, mesmo que décadas o tenham separado dos palcos da Rússia. Arthur Moreira Lima sempre será lembrado por eles como uma referência do piano brasileiro”.

Poucas pessoas sabem que foi Moreira Lima quem inaugurou, em um concerto memorável realizado em 2009, o piano Steinway de cauda longa, que faz parte do acervo de instrumentos do Centro Cultural da capital catarinense.

O cenário musical brasileiro vem apresentando sucessivas perdas, que desfalcaram, irreversivelmente, o elenco artístico de nosso país. Arthur foi ao encontro de Nelson Freire e de Antônio Meneses. Quanta saudade!!!

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