Quando viramos a folhinha e percebemos que estamos entrando no último mês do ano
Quando viramos a folhinha e percebemos que estamos entrando no último mês do ano, sentimos o coração pulsar mais rápido. Mais um ano que chega ao fim e a gente nem se deu conta! Alguns cabelos brancos a mais, algumas rugas conferindo uma aparência mais madura, um certo ar de cansaço... Que fizemos de bom neste 2017? Plantamos sementes que germinarão no ano vindouro? Investimos em novos projetos? Buscamos eliminar o excesso de peso que teimamos em colocar sobre os nossos ombros e nos tornamos pessoas mais “leves” e felizes? “É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma”, disse o pensador e poeta francês, Paul Valéry. A pluma flutua – um voo sem plano, sem direção, sem desafios. Os pássaros riscam o ar com precisão, colocam a leveza a serviço do existir.
Para mim, este será um ano inesquecível pelas grandes perdas que sofri. Foi um primeiro semestre devastador! Descobri, pelos caminhos da dor, que encontro o consolo nas palavras que semeio nas minhas crônicas. Escrever me faz refletir sobre os momentos vividos em meio à violenta tempestade que se abateu ao meu redor. Fico a pensar... Meu pai era um sonhador, fez tantos planos e morreu aos 53 anos. Minha mãe privou-se de muitas coisas, ficou viúva aos 44 anos e abriu mão de reconstruir sua vida para dedicar-se única e exclusivamente aos três filhos, e também morreu. Meu irmão encontrou um grande amor na maturidade, arquitetou uma vida nova, alicerçada em esperanças e sonhos pueris, morreu sem que houvesse tempo de concretizar seus planos.
Derramar minha dor no papel alivia meu fardo. Me faz reviver momentos de ternura e cumplicidade, percebendo sutilezas que só a maturidade permite, pois à época os olhos estavam embaçados pelo brilho ofuscante da juventude. Há sempre sinais evidentes de que “um ciclo vai se fechar sobre o que em mim jamais voltará a ser rosa ou cetim”, já dizia Adélia Prado. Nós é que fechamos os olhos e ignoramos avisos tão sutis quanto evidentes. Há um provérbio que diz: “A hora mais escura é a que vem antes do sol nascer”. Com a luz do sol o mundo volta a fazer sentido e o que nos intrigou antes parece menos misterioso. As esperanças se renovam...
Aprendi que a melhor homenagem que posso fazer àqueles que amei e partiram é viver como eles gostariam que eu vivesse: bem, em paz, com alegrias possíveis e até projetos ambiciosos e, talvez, impossíveis.
Tenho hoje uma pequena lista de pessoas que amei e se afastaram ou morreram. Em contrapartida, tenho uma outra lista de pessoas que chegaram ou estão a caminho, pois em breve serei tia-avó. Para ver melhor as coisas necessitamos aprender a olhar para bem longe de nós. Os desígnios divinos não devem ser contestados, pois tudo o que ocorre na vida, ocorre por uma razão perfeita. Não existe nada que possa ser considerado um erro no mundo de Deus.
Desde agosto retomei meu trabalho, que é na verdade uma paixã as aulas de piano, os ensaios do Coral Artístico Uberabense, as pesquisas sobre os pioneiros da História da Música em Uberaba, os saraus musicais que alimentam meu espírito. Quem se cerca de música por todos os lados, não tem tempo de sofrer.
A música traduz a alegria em estado bruto. A música traduz o sofrimento que as palavras jamais conseguiriam expressar. Alegre ou triste, a música é o elixir que alimenta a minha alma.
Que as alegrias do Natal ecoem nos corações dos homens e renovem as esperanças num mundo melhor e mais fraterno.
(*) Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba, ex-diretora geral da Fundação Cultural de Uberaba