ARTICULISTAS

Geralda Nascimento – uma sambista uberabense

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 01/03/2022 às 16:14Atualizado em 18/12/2022 às 18:28
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A PRE-5 foi a terceira rádio a ser criada em Minas Gerais. A primeira foi a Rádio Sociedade de Juiz de Fora (PRB-3), instalada em 1º de janeiro de 1926 pelo jornalista José Cardoso Sobrinho; a segunda, a Rádio Mineira, em Belo Horizonte, fundada em 1927 (AM-690), vindo a seguir a Rádio Sociedade Triângulo Mineiro, em Uberaba (PRE-5). O fato demonstra a importância da cidade de Uberaba na região do Triângulo, uma das mais progressistas do Estado de Minas. Vale lembrar que as rádios Inconfidência (PRI-3) e a Guarany (PRH-6), só foram inauguradas três anos depois, em 1936. O conhecimento desse pioneirismo encheu meu coração de justificado orgulho!

A inauguração da primeira emissora de rádio local, a Rádio Sociedade Triângulo Mineiro, PRE-5, ocorreu em 23 de março de 1933. Graças a este empreendimento, Uberaba passou a contar com um novo espaço para os artistas uberabenses: locutores, cantores, instrumentistas, atores e apresentadores. A PRE-5 tornou-se o mais importante veículo de comunicação e de promoção da cidade de Uberaba na região do Triângulo.

Geralda Nascimento foi uma das primeiras cantoras contratadas quando esta estação lançou no ar, pela primeira vez, sua onda sonora. Desde o início, seu talento foi se revelando e o número de seus fãs foi aumentando dia após dia.

Em janeiro de 1938, a PRE-5 inaugurou seu Conjunto Regional, sob a direção do músico Antenógenes Magalhães, flautista uberabense recém-chegado de Ribeirão Preto, onde tinha fixado residência em 1919. Antenógenes permaneceu no cargo até maio de 1939. No mês seguinte, Abel Ferreira, músico natural de Coromandel, veio com sua esposa para Uberaba. Aos 24 anos, o brilhante saxofonista e clarinetista de fama consagrada foi convidado a assumir o cargo de diretor-musical da Rádio Sociedade Triângulo Mineiro. Abel permaneceu neste posto até o final de 1940.

Em 1938, Geralda achou que poderia tentar a sorte em uma cidade de maior porte e, juntamente com Sylvia Riccioppo, Mariazinha Silva e Orlando Nascimento, rumou para Belo Horizonte, onde passou a integrar o cast da Rádio Inconfidência. Aí cantou durante dois meses. Entretanto, não chegou a firmar contrato por motivos pessoais, quando ela resolveu voltar para sua cidade natal. No segundo semestre desse mesmo ano, Geralda voltou à capital mineira, realizando inúmeras apresentações na Rádio Inconfidência e na PRH-6, Rádio Guarany. O Diário de Notícias do Rio divulga três apresentações da cantora na Inconfidência no decorrer do mês de setembro de 1938, dividindo o palco com o cantor Carlos Lessa e, também, com a dupla “Café com Leite”, formada pelo cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro, ao lado do pernambucano Rosil Cavalcanti.

Com o Regional surgem os primeiros programas de estúdio na PRE-5, contando com o concurso dos nossos melhores músicos, instrumentistas e cantores. Nessa primeira leva de cantores consta o nome da excepcional sambista Geralda Nascimento, descendente de uma família que presenteou Uberaba com inúmeros músicos que projetaram Uberaba na região.

Em 1º de junho de 1939, Geralda se apresentou com o Regional da PRE-5, sob a direção de Abel Ferreira, interpretando os seguintes números: “Uva de Caminhão”, samba de Assis Valente gravado por Carmem Miranda e, também, por Marlene, em 1939; “Sonhos de Amor”, valsa do compositor carioca André Filho, gravada em 1930 pela cantora Anna de Albuquerque Mello, e “Deixa comigo!”, chorinho de Assis Valente que ficou famoso na voz de Carmem Miranda, em gravação de 1932. Foi uma apresentação que agradou plenamente aos fãs da cantora, pela interpretação irrepreensível das peças selecionadas.

Aliás, Geralda Nascimento constituía sempre uma atração à parte quando atuava na PRE-5 com sua voz privilegiada.

Abel Ferreira ainda era o diretor-musical da emissora quando, em 6 de julho de 1940, a Rádio Sociedade Triângulo Mineiro inaugurou as novas instalações do seu moderno estúdio, montado no centro da cidade, nos altos do prédio “Pedro Salomão”, numa louvável iniciativa de Quintiliano Jardim, diretor-presidente da PRE-5.

Demonstrando ser um verdadeiro celeiro de valores artísticos, Uberaba cede mais um de seus preciosos elementos nos meios radiofônicos. Em janeiro de 1940, o Lavoura e Comércio estampou um artigo sob o título “Mais uma consagrada sambista uberabense é contratada pela Rádio Inconfidência”, onde consta: “Geralda Nascimento é a nova revelação do nosso broadcasting, que acaba de ser contratada para atuar ao microfone da potente Rádio Inconfidência de Belo Horizonte”. Segundo o jornal Carioca (RJ), depois do contrato que cumpriu na PRI-3, Geralda Nascimento foi convidada para figurar no cast da Rádio Mineira, afirmando ser uma excelente aquisição da PRC-7. Sua vida profissional na capital mineira, portanto, seguia de vento em popa e seus caminhos se abriam a olhos vistos.

Em Belo Horizonte, ela continuou a granjear fãs, desta vez em maior número, pois passou a atuar numa emissora estatal de maiores possibilidades, como era o caso da Rádio Inconfidência. Porém, no segundo semestre de 1940, sentindo-se adoentada, Geralda regressou para Uberaba, onde não mais se apresentou ao microfone da rádio local, pelo agravamento de seu estado de saúde.

Em 5 de janeiro de 1942, a talentosa cantora Geralda Nascimento veio a falecer na Casa de Saúde São José. A notícia de sua morte foi publicada na coluna “Registro Sonoro”, do Lavoura e Comércio, espaço dedicado às notícias do rádio. O texto assinala a perda de uma das maiores glórias do elenco de cantoras da PRE-5, e conclui afirmand “Perde, assim, o broadcasting mineiro uma de suas mais lídimas representantes e o samba brasileiro uma de suas mais fiéis intérpretes. Uberaba inteira lamenta sua morte prematura”.

Olga Maria Frange de Oliveira

Autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”, ex-diretora geral da Fundação Cultural de Uberaba, eleita para a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

 

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