Meu marido e eu, ao lado de minha prima Edna Maria dos Santos, chegamos ao Memorial Chico Xavier às 9h30 da manhã do dia 30 de junho, num domingo ensolarado. O local, situado na Mata do Carrinho, estava preparado para receber um grande público. Essa data representa muito na vida do médium Francisco Cândido Xavier, pois assinala o seu desencarne há 22 anos.
Do palco, erguido logo na entrada, ao ar livre, soavam belas melodias interpretadas por um jovem cantor, dono de uma voz de tenor excepcionalmente harmoniosa. Adler é o nome dele, sendo bastante conhecido na comunidade espírita uberabense como integrante do grupo musical “Fé, Esperança e Caridade”. As canções, muito bem selecionadas, embasadas em textos extraídos do evangelho, tocavam nossos corações e nos preparavam para a primeira visita ao Memorial Chico Xavier, totalmente repaginado após uma ampla reforma em suas instalações. Logo a seguir, houve apresentação da Orquestra Municipal de Uberaba, sob a regência do maestro Eliezer Thiago.
Nosso grupo portava convites especiais, que nos foram encaminhados pela conceituada restauradora uberabense de obras de arte Débora Elisabete Ribeiro Vannucci. Filha do casal Vanda Elisabete e João Ribeiro da Silva, Débora foi a artista designada pela empresa paulista Expomus para restaurar todo o acervo pessoal do líder espírita, compreendendo mobiliário, documentos, objetos de uso pessoal, quadros, molduras e até toras de madeira que ficavam no quintal da casa de Chico, onde ele costumava se sentar para meditar e refletir solitariamente, e até mesmo entabular diálogos com seus guias espirituais.
Grande parte do atual acervo foi encaminhada para Uberaba por líderes espíritas da cidade de Pedro Leopoldo (MG), onde Chico viveu a primeira etapa de sua vida. Foi lá, ao lado de sua família, que ele deu seus primeiros passos no estudo da doutrina espírita e tomou conhecimento da grande missão que lhe estava reservada pelo plano espiritual. Foram anos de dedicação e aprendizado.
Em Uberaba, Débora foi responsável pela restauração de todo o acervo do Museu das Irmãs Dominicanas do Colégio Nossa Senhora das Dores. Na igreja São Domingos, além do tríptico das imagens de São Domingos, Santa Catarina de Senna e Nossa Senhora do Rosário, recuperou o Conjunto do Rosário, com imagens de São Domingos e Nossa Senhora do Rosário, escultura barroca em madeira policromada que se encontra na sacristia. Dessa forma, ela deixou seu nome vinculado a obras relevantes do acervo artístico da Ordem Dominicana de nossa cidade.
Doravante, seu nome estará sempre associado ao acervo pessoal de Chico Xavier, pelo excelente resultado obtido no desempenho de suas funções.
Seus mais recentes trabalhos incluem obras sacras restauradas em Patos de Minas e Araxá, sendo que nesta última cidade consta a Matriz de São Sebastião, construída no ano de 1804, que exigiu várias intervenções. Como se não bastasse, executou restaurações no Grande Hotel e Termas de Araxá, nas pinturas parietais do suntuoso prédio, utilizando técnicas de afresco a seco.
A Expomus, Exposições, Museus e Projetos Culturais é uma empresa especializada em projetos museológicos de perfil social, cultural e científico tecnológico, sediada na capital paulista. É pioneira na área em que atua no Brasil, desde 1981. No Memorial Chico Xavier, foi responsável pela Assessoria Museológica, atuando nas frentes de planejamento institucional, adequação arquitetônica e reformulação da exposição principal.
Segundo a diretora-geral da Expomus, Maria Ignez Mantovani Franco, A empresa teve a importante missão de coordenar a criação de novas formas de interpretar e apresentar a figura humana de Chico Xavier e a cidade de Uberaba para um público amplo, por meio de uma linguagem contemporânea atraente e atenta a todo o seu legado.
Francisco Cândido Xavier foi um dos mais influentes médiuns do espiritismo no Brasil e no mundo. Autor de mais de quatrocentas obras psicografadas, dedicou sua vida à caridade e à divulgação dos princípios espíritas. O respeitado líder mineiro fez de Uberaba um importante centro de peregrinação e estudo da doutrina espírita, atraindo, ao longo dos anos, milhares de visitantes à nossa cidade. Atualmente, o Memorial integra o quinto geoparque do Brasil, recém-reconhecido pela Unesco. Tornou-se um espaço de referência, com a missão de preservar e difundir a memória de um dos brasileiros mais ilustres, cuja obra transformou o Brasil na verdadeira “Pátria do evangelho”.
A primeira impressão de quem visita o Memorial, após a sua reforma, é a melhor possível. Logo na entrada, as pessoas têm a oportunidade de ouvir, ao telefone, a voz do médium pronunciando belas reflexões. No amplo espaço idealizado para narrar a trajetória de Chico, foi pendurado um grande coração iluminado com cores avermelhadas, cujos batimentos cardíacos nos acompanham ao longo de nossa caminhada no interior do prédio. Tudo foi pensado de maneira a apresentar a vida de Chico Xavier integrada aos acontecimentos transformadores da humanidade em geral, envolvendo: as grandes descobertas, a primeira viagem à Lua, a evolução da tecnologia, as duas grandes guerras mundiais, os líderes políticos mais representativos, catástrofes naturais e muito mais. Essa forma dinâmica de inserir a vida desse grande líder espírita dentro desse cenário evolutivo humaniza a figura de Chico e nos sensibiliza ainda mais.
O povo uberabense não pode deixar de visitar o Memorial Chico Xavier, agora totalmente remodelado e usando uma linguagem contemporânea e arrojada. Coisa de Primeiro Mundo!!!... Parabéns, Uberaba!
Olga Maria Frange de Oliveira
Professora de piano; autora dos livros “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e “Mulheres na Música”; ocupa a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
