Há alguns dias venho sentindo uma verdadeira apatia em relação ao mundo que me cerca
Há alguns dias venho sentindo uma verdadeira apatia em relação ao mundo que me cerca. Não sinto vontade de escrever minhas crônicas, não tenho inspiração para contar minhas histórias e estou sem ânimo para trabalhar. Estou totalmente desestimulada e apenas tentando seguir adiante.
Só hoje parei para tentar analisar a causa de tudo isso, e consegui fazer um diagnóstico da situação. Percebi que desde o início de 2019, há pouco mais de um mês, fomos assolados por uma sucessão de tragédias tão impactantes que afetaram negativamente as nossas vidas.
A internação do nosso presidente, seguida de sucessivos problemas intercorrentes; a terrível tragédia de Brumadinho, com um saldo de mais de trezentas vítimas fatais; os desastres anunciados das chuvas no Rio de Janeiro, que contabilizaram sete mortos; a traumática perda de dez adolescentes no incêndio do Centro de Treinamentos do Flamengo; a perda do jornalista e político Wagner Montes, um exemplo de superação; a morte do jornalista Ricardo Boechat, que nem eu sabia que doeria tanto; e, finalmente, a perda de Bibi Ferreira, um ícone do teatro nacional.
Meu Deus, o que é isso? O mundo se turvou envolto numa profunda melancolia, que “sugou” o colorido das coisas que nos cercam. Tudo passou a ser visto em branco e preto e as sombras invadiram cada canto de nossas vidas. As emoções são as cores da alma e a alma está de luto.
O pior de tudo é que após cada uma dessas ocorrências, os analistas de plantão provaram, irrefutavelmente, que muitas delas poderiam ter sido evitadas. Para isso, bastaria que as pessoas que detêm o poder percebessem que o ser humano é o bem mais precioso e está acima da ganância e do lucro; tivessem um olhar fraterno para com seus irmãos e parceiros de caminhada; parassem de centralizar suas ações egoisticamente para o bem de si próprios e de uma minoria, em detrimento do resto da humanidade. Simples assim!
Os erros, todos nós sabemos, fazem parte da vida, mas aprendemos com eles e partimos em busca dos acertos, ajustando nossas ações em função de um futuro melhor para a próxima geração. É preciso ter fé, e a fé não nasce das certezas. Nasce do amor ao próximo e cresce no encontro com o divino, que habita em cada um de nós. As pessoas estão perdendo a capacidade de se colocar no lugar do outro, pela simples razão de que se colocam à frente ou acima dele.
Renovei minha fé na leitura do livro “A Cabana”, de William P. Young. Uma leitura edificante que traz densos diálogos sobre vida, morte, dor, perdão, fé, amor e “renascimento”. De alguma forma, o autor consegue dar um sentido para todo sofrimento que precisamos enfrentar ao longo de nossas vidas. Ele nos ensina que chorar não é fraqueza, é uma demonstração de humanidade, e que viver é sondar o passado, aproveitar o presente e inspirar o futuro. Ele nos ensina também que Deus é mensageiro da esperança e a certeza de que somos passageiros. Tornamo-nos conscientes de que a felicidade está reservada para quem souber reciclar suas tristezas e desenvolver a capacidade de converter a decepção em algo positivo.
Martin Seligman afirmou que “as pessoas otimistas preferem acreditar que os problemas são obstáculos temporários, limitam-se àquela situação específica e foram provocados pelas circunstâncias, pela falta de sorte ou por outras pessoas – a culpa não é delas”. Na verdade estamos nos sentindo impotentes diante de tantas calamidades. Incorporamos a dor, que entrou em nossos lares pela televisão, e nos tornamos partícipes de todo aquele caos, mas jamais poderemos esquecer que aceitar a dor sempre fez parte dos costumes e das tradições do ser humano.
O Brasil pede socorro e clama por justiça! Precisamos somar nossas forças para refazermos as coisas da maneira certa. Vamos nos unir para que possamos viabilizar a construção de um novo país mais humano e cristão!
(*) Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba e ex-diretora geral da Fundação Cultural de Uberaba)