Ao abrirmos as cortinas do passado, tomamos conhecimento de alguns músicos
Ao abrirmos as cortinas do passado, tomamos conhecimento de alguns músicos que tiveram intensa participação na vida musical uberabense na primeira metade do século XX, e que, com o passar dos anos, foram “esquecidos” pelos seus conterrâneos.
Dentre estes, encontramos o nome do violoncelista Antônio Savastano, mais conhecido pelo apelido “Minúsculo”.
Antônio nasceu em Uberaba em 1897, filho do Sr. Aurélio Vaz de Melo e da Sra. Maria Gracia Savastano, de origem italiana. Descendente de uma antiga e conceituada família uberabense, passou aqui grande parte da sua vida.
Durante todo o período que residiu em Uberaba, foi um trabalhador incansável. Nesta cidade e também em Uberlândia, onde morou durante alguns anos, exerceu diversas atividades: escrevente de cartório, comerciante, industrial e músico.
Como industrial, fundou e dirigiu durante muitos anos uma indústria de torrefação de café em Uberaba, que teve excelente aceitação no comércio da região. O “Café Minúsculo” teve seus dias de glória!
Homem de sensibilidade e gosto artístico herdados do lado italiano da família, tornou-se violoncelista inspirado e autor de composições que despertaram a admiração de seus conterrâneos, como as mazurcas “Nenê” e “Xodó” (Caderno 1 de Renato Frateschi). Integrou o elenco de várias orquestras, com Orquestra do Cine-Teatro Politeama (1917/1927); Orquestra da Confeitaria Central (de Antônio Damiani); Orquestra da Igreja Matriz (1912/1925). Todas sob a regência do maestro Renato Frateschi, de quem se tornou grande amigo.
Tocava também em orquestras montadas para concertos de gala em datas especiais, com 1- Chegada de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, novo Bispo de Uberaba. A orquestra se apresentou sob a regência do maestro Alberto Frateschi nos estúdios da PRE-5. No programa só figuravam peças de elevado valor musical e de grande responsabilidade artística (07/12/1939); 2- Grande Concerto Sinfônico no Cine-Teatro São Luiz, sob a regência do maestro e compositor Elviro do Nascimento. Compunha o elenco da orquestra músicos da Banda do 4º Batalhão, com acréscimo dos mais conceituados músicos locais (31/10/1940); 3- Concerto Sinfônico do maestro paraense Armando Lameira, ex-discípulo de Carlos Gomes. Uma orquestra formada pela “nata” dos músicos uberabenses, que se apresentou no Salão Grená da PRE-5. No programa, somente autores brasileiros, incluindo um lindo Prelúdio do melodrama “Erzelaide” de autoria de Antônio Savastano (03/10/1941); 4- Orquestra da Rádio Sociedade Triângulo Mineiro, PRE-5, sob a regência do maestro Alberto Frateschi (1942).
No início dos anos 40, Savastano produziu um programa na PRE-5 denominado “Recordando o Passado”, irradiado aos sábados, terças e quintas-feiras às 21h30. O programa apresentava músicas dos melhores compositores da região. Sucessos do passado eram revividos por sua afinada Orquestra de Cordas, para o deleite de centenas de ouvintes. O patrocínio era do “Café Minúsculo”. O programa acolhia todo um repertório de compositores uberabenses que perdiam espaço para as músicas americanas que invadiam as emissoras. Seu apoio aos colegas compositores nesse momento de crise foi muito importante para a classe artística uberabense.
No mesmo período, Antônio Savastano fez várias participações no “Programa Metropolitano” da mesma emissora, ao lado dos músicos: João Villaça Junior, Amilcar Cicala, Renato Frateschi, Antenógenes Magalhães e Januário Felice.
Em meados da década de 1940 fixa residência em Uberlândia e, em 1953, segue para o Rio de Janeiro, ali se estabelecendo com sua família. Na capital da República, a música torna-se uma página virada em sua vida, e ele passa a integrar o corpo de funcionários de um dos cartórios cariocas. E foi como funcionário público estadual que se aposentou na segunda metade da década de 1960.
Faleceu no Rio de Janeiro em 6 de agosto de 1968, aos 71 anos, em consequência de um enfarto do miocárdio. Sua morte repercutiu na vasta roda de amigos e parentes que aqui ficaram. Uberaba deve a Antônio Savastano um preito de admiração e reconhecimento. Ele fez parte daqueles valorosos músicos que, com sua arte, colaboraram para a construção de um período muito importante da História da Música de Uberaba.
(*) Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba, ex-Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba