Conheci as gêmeas Ani e Iná há muitos anos. Elas eram muito bonitas, já atuavam como professoras e trabalhavam no setor educacional uberabense no Pré-primário. Confesso que nunca soube distinguir uma da outra, tal a semelhança entre as duas. Desde muito jovens, elas circulavam nos eventos culturais e filantrópicos de nossa cidade, tornando-se muito conhecidas em nossos círculos sociais. Ani chegou a ser coroada Miss Uberaba no esplendor de sua juventude.
Sei muito pouco a respeito de Ani de Souza Arantes Santos, embora conserve de nossos encontros uma forte impressão de mútua simpatia, de falarmos a mesma “língua”. Sempre admirei a sua capacidade de se doar a uma causa, com a determinação que só têm as pessoas desprovidas de sentimentos mesquinhos, como o orgulho e a inveja. Ani sempre demonstrou ser uma pessoa que nunca desejou brilhar mais do que o outro, sabia ouvir com serenidade e agia com muita discrição e diplomacia em todas as ocasiões. Durante muitos anos fez-se presente nas reuniões da Academia, discutindo com interesse os assuntos postos em pauta, dando valiosas sugestões, aparando arestas e colaborando efetivamente para o fortalecimento da entidade.
Nos últimos anos, fomos nos aproximando graças à Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Foram as gêmeas que me convidaram a frequentar algumas reuniões deste sodalício, quando Ilcea Borba Marquez era a presidente da Academia e Ani e Iná eram sócias correspondentes.
No início de 2022, quando nós duas já pertencíamos ao quadro de escritores da Academia, Ani resolveu criar um grupo de WhatsApp destinado a se tornar um espaço de bate-papo e troca de experiências entre os acadêmicos. Deram a ele o nome de “Acadêmico Mário Palmério”, homenageando o fundador da Universidade de Uberaba e, também, o único uberabense que assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, elevando o conceito intelectual de nossa cidade em nível nacional. Foi uma ótima ideia, pois atraiu uma boa parte dos acadêmicos e passou a divulgar os trabalhos publicados por eles na mídia local e regional. Na realidade, graças à diplomacia das gêmeas, Ani e Iná, que sempre comentavam os textos e poemas com palavras de incentivo e total desprendimento, o grupo foi se ampliando e o espírito de fraternidade reinou absoluto. Atraiu inclusive confrades de outras cidades do Triângulo Mineiro, que, até então, mantinham-se ausentes das atividades de nossa Academia.
Li em algum lugar, que não me lembro onde, que os gêmeos são almas gêmeas que juraram fidelidade eterna. Logo me veio à lembrança as irmãs uberabenses, pois era tão forte a ligação entre as duas crianças ainda no ventre materno, que sua mãe, por intuição, ou mesmo por inspiração divina, resolveu batizá-las com os nomes Ani e Iná, como se uma fosse o espelho da outra. Um nome “espelhado”, ou seja, a imagem de um duplo. E eu completaria, com convicção, que os nomes são âncoras e amarram um destino. A vida de cada um de nós está previamente traçada. Não há como desviar o roteiro estabelecido por Deus para nossas vidas. A nossa data de validade é definida desde a concepção do feto.
Carlos Drummond de Andrade foi muito feliz quando disse: “Ninguém está preparado para morrer, mas isto não faz diferença; morre-se assim mesmo”. Ele foi um pensador que sempre teve uma visão extremamente racional dos eternos dilemas da humanidade. Como disse Lygia Fagundes Telles: “A gente passa o ferrolho e a morte entra pelas frestas, pelo vão das telhas, feito um sopro. A morte é um sopro, entra até pela fechadura”.
Querida Iná, você doravante cultivará a mesma saudade que a semente sente da terra. Sentimos saudades de momentos de vida e momentos de pessoas. Assim como o poeta Mia Couto, eu afirmaria: “Não acredito no luto. Mas é sempre bom que alguém nos agasalhe a tristeza”. Tocar a dor do outro exige delicadeza. Harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva a vida toda. Tenha certeza Iná, de que Ani permanecerá viva em nossas lembranças pelo amor que distribuiu em vida. O insuperável Carlos Drummond de Andrade escreveu, com sua alma de poeta: “O passado não passa nunca. E o presente não tem a mínima significação quando sabemos prender com alfinete invisível as melhores horas antigas”. A lembrança é um fio que nos liga ao passado. A partir de agora, Iná, você encontrará na sua memória afetiva doces recordações para reavivar a chama deste amor fraternal! Que Jesus, em sua infinita bondade, te ampare amorosamente em seus braços nesses dias tão difíceis!!!... Muito amor para você!
Olga Maria Frange de Oliveira
Autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”, ex-Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba, ocupa a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro