ARTICULISTAS

Saudades de Josué

Em anos de trabalho no setor musical, algumas vezes tive o privilégio de conhecer jovens

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 06/06/2018 às 19:50Atualizado em 17/12/2022 às 10:21
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Em anos de trabalho no setor musical, algumas vezes tive o privilégio de conhecer jovens que me surpreenderam pelo talento excepcional que manifestavam no domínio de seus instrumentos.

Um desses musicistas foi o uberabense Josué de Sousa Silva, nascido em 5 de março de 1984, oriundo de uma família de músicos. Teve em seu pai, o músico Adaniel Moreno da Silva, um grande incentivador, ao lado de sua mãe, Rosélia Alvarenga de Sousa Silva. Seu irmão Jonas, violinista muito bem dotado, é hoje músico da Orquestra Municipal de Uberaba.

Josué iniciou seus estudos musicais na Igreja Evangélica da Congregação aos 8 anos de idade, como aluno de clarineta. Pelas mãos de seu pai, foi encaminhado para o Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi alguns anos depois, onde passou a estudar teclado. Em pouco tempo, seu talento no manuseio do instrumento chamou a atenção de sua professora, Rosana Terra. Improvisava com uma espantosa facilidade e assimilava com incrível rapidez a estrutura harmônica das peças que executava. Era um diamante bruto pronto para ser lapidado.

Após a conclusão do curso de teclado, elegeu o saxofone como um novo instrumento a ser explorado. Era, então, um adolescente com cerca de 14 anos e sólidos conhecimentos da linguagem musical. A paixão pelo sax foi imediata e lhe trouxe novo alento. Embasado nos conhecimentos adquiridos conseguiu, com muita garra e determinação, concluir brilhantemente o curso na classe do professor maestro Reginaldo Costa.

Seu talento era indiscutível e sua vontade de adquirir pleno domínio técnico do saxofone o afastava da árdua tarefa do magistério, que ele abraçou cedo, até pela escassez de professores na área. No Conservatório Estadual de Música chegou a atuar como professor por um período de oito anos. Encarando novos desafios, gostava de criar projetos que desenvolvia na escola integrando grupos com diferentes formações: trios, quartetos ou quintetos. Em busca da profissionalização, chegou a criar o seu próprio conjunto, o “Celebration”, ao lado dos amigos: Douglas, Carlos Valeriano, Ricardinho e Kelvis.

Mergulhou de corpo e alma no jazz, gênero que lhe possibilitava magníficas improvisações, em que sua capacidade criativa era levada ao extremo.

Dentre seus inúmeros “feitos” musicais, pudemos vê-lo “colorindo” com suas harmonias sempre precisas um show de Renato Teixeira no auditório do SESI, com casa lotada. Nessa época, passou a usar um estiloso chapéu de malandro, e sua postura nos palcos foi se modificando à medida que conquistava seu próprio espaço e ia amadurecendo como intérprete. Nossos olhos o procuravam no meio do grupo e nossos ouvidos reconheciam a beleza do seu sopro genial.

Balzac já dizia: “As pessoas talentosas são criaturas que brotam em plena terra sob os raios desse sol invisível denominado “vocação”.

Infelizmente, Josué nos deixou aos 26 anos, em 27 de maio de 2010, vítima de um acidente de moto. A notícia da sua morte correu como rastilho de pólvora e deixou a classe artística em estado de choque. Com sua perda, o cenário musical uberabense ficou mais pobre. Com certeza deve ter sido requisitado para tocar seu sax mágico nas hostes celestiais. Invoco a sabedoria de Lya Luft, ao dizer: “A memória retém a vida. Nada de verdade termina”. Você permanece em nossos corações, Josué!

(*) Pianista, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba, ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba

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