Antônio Meneses Neto nasceu em 23 de agosto de 1957, em Recife, Pernambuco, no seio de uma família de músicos. Era filho do trompista João Jerônimo de Meneses, que no primeiro ano de vida do filho foi morar com a família na cidade do Rio de Janeiro. A decisão foi consequência de um oportuno convite para João assumir o posto de primeiro trompista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio. Seus três outros filhos também se tornaram músicos: Gustavo (violino), Ricardo (viola) e Eduardo (violoncelo). Juntos, formaram o “Quarteto Meneses”, que também contava com a participação da pianista carioca Paula da Matta, professora de Música de Câmara da Escola de Música da UFRJ.
Aos 10 anos, Antônio começou a estudar violoncelo com a professora Nydia Soledad Otero, permanecendo sob sua orientação até os 16 anos. Após vencer inúmeros concursos nacionais, inclusive para atuar como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira, seus caminhos começaram a se abrir. Um encontro casual do jovem Antônio Meneses com o violoncelista e maestro italiano Antonio Janigro levou o renomado mestre a formular um convite para ele frequentar suas aulas em Düsseldorf e, mais tarde, em Stuttgart, ambas cidades alemãs. Sem hesitar, Meneses armou-se de coragem e, aos 16 anos, seguiu para a Europa, em busca de aprimoramento. Dessa forma, pouco tempo depois, tornou-se promissor aluno da Escola Superior de Música de Düsseldorf, na classe do professor Janigro. Em 1977, aos 20 anos, o violoncelista brasileiro vence o Concurso Internacional ARD de Munique, derrotando, por unanimidade, cerca de 40 candidatos.
Em 1981, Meneses realizou duas importantes gravações para a Deutsche Gramophon com Herbert von Karajan e a Orquestra Filarmônica de Berlim, tocando o Concerto Duplo para Violino e Violoncelo, de Brahms, com Anne-Sophie-Mutter ao violino, e o Poema Sinfônico “Dom Quixote”, de Richard Strauss, com partes de destaque para violoncelo solo.
No ano seguinte, aos 25 anos, Antônio Meneses fez jus ao 1º Prêmio e Medalha de Ouro no Concurso Tchaikovsky, de Moscou, na categoria violoncelo. Enfrentando nada menos que 12 fortes candidatos, essa premiação o consagrou definitivamente nos meios musicais em nível mundial. A partir daí o brasileiro se apresentou com as mais renomadas orquestras, como: a Filarmônica de Berlim; a Filarmônica de Nova Iorque; a Sinfônica de Londres; a Sinfônica da BBC; a do Concertgebouw, de Amsterdã, e a Filarmônica de Israel, entre outras. O mundo se dobrava ao seu talento. Nosso festejado violoncelista atuou também com grandes regentes, como Herbert von Karajan, Riccardo Chailly, Claudio Abbado, André Previn, Mstislav Rostropovitch, Riccardo Muti e Neeme Järvi.
Como se não bastasse, Antônio Meneses foi membro titular do “Beaux-Arts Trio”, durante 10 anos, de 1998 a 2008, uma das mais prestigiosas formações de câmara do mundo. Seu instrumento era um Matteo Goffriller, fabricado em 1710. Goffriller era um luthier veneziano, particularmente conhecido pela qualidade de seus violoncelos, equivalente, nos cellos, aos violinos Stradivarius. Ele foi o fundador da “Escola Veneziana” de luthiers na época em que Veneza era um dos mais importantes centros de atividade musical do mundo.
Meneses fixou-se na Basileia, cidade banhada pelo rio Reno, cuja língua oficial é o alemão. É a terceira maior cidade da Suíça, atrás de Zurique e Genebra. A cidade foi fundada pelos romanos e é considerada a capital cultural da Suíça. Berço de notáveis como: Erasmo de Roterdan, Friedrich Nietzsche, Hermann Hesse e Karl Jaspers. Abriga a Universidade de Basileia, a mais antiga da Suíça, fundada em 1460.
Sua vida profissional transcorreu sempre entre o Brasil e o exterior. No Brasil, ele gravou com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), os dois Concertos para Violoncelo e Orquestra, e a Fantasia, também para Violoncelo e Orquestra, de Villa-Lobos. Na Europa, o violoncelista pernambucano se tornou um dos músicos mais conhecidos e disputados de sua geração. Gravou não uma, mas duas vezes, as Seis Suítes para Violoncelo Solo de Johann Sebastian Bach, consideradas patrimônio imaterial da cultura ocidental. A primeira gravação foi feita em 1979 e este monumento da arte para violoncelo solo foi lançado, pela segunda vez, em 15 de dezembro de 2023, pela gravadora Azul Music. A este respeito, endossamos as palavras do violinista italiano Emanuelle Baldini: “Uma gravação não é nada mais do que uma foto sonora que reproduz um momento, uma etapa, e cada um de nós mudamos muito com o tempo. Na música também há sempre coisas novas para dizer, para descobrir. Nenhuma gravação é definitiva”.
Nascido em Recife, criado no Rio de Janeiro e radicado na Europa desde a juventude, Antônio Meneses morreu aos 66 anos, no dia 3 de agosto próximo passado, na Basileia, vítima de câncer no cérebro. Ele havia sido diagnosticado em junho com glioblastoma multiforme, um tipo agressivo de tumor cerebral. Atendendo a um pedido do próprio músico, não houve funeral. A morte deste virtuose do violoncelo abalou o cenário musical do Brasil e do mundo, pois com ele desaparece um dos cinco maiores violoncelistas da atualidade.
Requiescat in pace, maestro Meneses!...
Saudades eternas!!! O Brasil está de luto.
Olga Maria Frange de Oliveira
Autora dos livros “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e “Mulheres na Música”; ocupa a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro