Há muito tempo venho tentando escrever um texto sobre Uberaba expressando meu amor por esta cidade que me viu nascer, acalentou meus sonhos da mocidade, me viu crescer e construir uma vida profissional com um bom saldo de realizações. Aqui encontrei tudo que eu precisava para ser feliz. Queria muito agradecer as dádivas que me foram concedidas. Na realidade, estou sempre adiando o momento de escrever. A expectativa me assusta. Preciso estar inspirada para dar voz ao meu coração e falar amorosamente de ti.
Uberaba!
Dois séculos construindo laboriosamente tua história! É um ciclo que se fecha.
A memória e a tradição fazem a grandeza de um povo.
Quando é mesmo a data do teu aniversário? Em Uberaba, até o passado é incerto!...
Quantos segredos tu encerras em tua caminhada gloriosa, desde os tempos do Major Eustáquio!
Uberaba, terra das sete colinas!
Cidade de belas igrejas, que revelam a fé de teu povo.
És barroca na Igrejinha de Santa Rita, românica na Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores, gótica na Igreja de São Domingos e na sua bela Catedral, eclética na Igreja da Adoração Perpétua e moderna na Igreja de São Benedito.
Nossa Senhora da Abadia foi transformada, pela fé inquebrantável do teu povo, em nossa padroeira, uma vez que, ao nascer, eras o Arraial de Santo Antônio e São Sebastião.
Vigário Silva semeou as artes, incentivando o teatro e a música. As sementes germinaram e Uberaba tornou-se celeiro de grandes artistas, instrumentistas, maestros e compositores, cuja fama repercutiu no país.
Mário Palmério construiu Faculdades e Uberaba tornou-se um respeitado centro universitário.
Alberto Frateschi e Odette Carvalho de Camargos fundaram escolas de música e Uberaba revelou grandes talentos ao longo de gerações.
És o pilar que sustenta um futuro à altura de tua grandeza.
Nascestes sob o signo da luta e tuas conquistas foram árduas e sofridas.
Suportas, ao longo dos anos, os embates do temporário com o permanente.
És a Princesa do Sertão e a Capital do Zebu.
És passado e presente,
És Rio Grande e Rio Uberaba,
Terra de coronéis e fazendeiros,
De Dom Alexandre e Dom Benedito,
Do Padre Prata e do Monsenhor Juvenal Arduini,
Das Carmelitas, das Beneditinas, das Concepcionistas e da Ordem dos Dominicanos.
Tua aura mística atraiu para cá Chico Xavier, estrela fulgurante, profeta que aqui veio para cumprir uma missão. E a grandiosidade de sua obra repercutiu muito além de tuas fronteiras.
Uberaba – uma cidade desconcertante. Tua poeira vermelha fica impregnada na roupa, na pele e na nossa alma. Não é à toa que a pedra típica de nossa região é a tapiocanga, com sua cor encarnada como o solo de onde procede.
Uberaba, terra que atraiu imigrantes de todas as partes, que aqui fincaram raízes e ajudaram a construir o teu progresso. Como não permanecer nesta terra abençoada, que a todos acolhe como filhos legítimos?
Quantos filhos teus te louvaram em prosa e verso!
Sou filha desta terra abençoada com muito orgulho.
A majestade irregular de teu traçado urbanístico, conta um pouco de tua história.
Não há, para mim, uma paisagem urbana mais bonita que a minha Uberaba vista de uma de suas colinas.
Na maturidade dos meus dias, resolvi vasculhar tuas entranhas para trazer à luz alguns de teus mais ilustres filhos. Homens e mulheres forjados pela poderosa energia que emana das profundezas de teu solo e que construíram juntos a tua grandeza.
Parabéns, Uberaba, pelos teus duzentos anos de história!
Olga Maria Frange de Oliveira
Professora de piano, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba