Amanda Carneiro nasceu na cidade de Uberaba em 16 de outubro de 1883. Descendente de uma família abastada, recebeu uma educação esmerada no Colégio Nossa Senhora das Dores, fundado em 1895. Nesse educandário, que recebia alunas de toda a região, ela fez seus estudos regulares, frequentando, paralelamente, o curso de piano, além de receber aulas de etiqueta voltadas para o mais fino trato social. Em 1885, seis Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils, região da França, chegaram em nossa cidade com a finalidade de atuar na área da educação, voltada exclusivamente para o sexo feminino. O prédio que abrigou o grande e imponente colégio, que goza de excelente conceito até os dias atuais, só foi concluído em 1895.
Na flor de sua juventude, Amanda casou-se com o comerciante Arlindo Teixeira Júnior, da cidade de Uberabinha, hoje Uberlândia. Após o casamento, ela não quis guardar para si seus dotes musicais. Tornou-se professora particular de piano, ensinando em sua própria residência. Ela atendia não só crianças iniciantes, como também jovens da sociedade local. Na realidade, ela foi uma pioneira no ensino do piano em Uberlândia.
Piedosa, somente iniciava seu trabalho diário após voltar da igreja, onde participava diariamente da Santa Missa. Amanda era uma mulher de muita fé e católica praticante. Auxiliava com abnegada dedicação a Igreja, responsabilizando-se pelo fornecimento de música durante as missas e cerimônias especiais. Durante muitos anos, pertenceu à Irmandade do Sagrado Coração de Jesus da Matriz de Nossa Senhora do Carmo e, posteriormente, da Catedral de Santa Teresinha do Menino Jesus.
D. Amanda não gerou filhos de seu matrimônio, mas preencheu essa lacuna em sua vida recebendo em seu lar uma sobrinha, vinda de Morrinhos (GO), que ocupou um lugar muito especial em seu coração. A menina Nedy Carneiro mereceu, desde a mais tenra idade, o afeto de uma “mãe” amorosa. Nedy também foi encaminhada para o Colégio Nossa Senhora das Dores, em Uberaba, onde foi admitida em regime de internato. Ela foi tão bem acolhida pelas dominicanas que acreditou ter vocação religiosa. O Sr. Arlindo e D. Amanda tudo fizeram para que ela concretizasse esse ideal. O casal enviou a sobrinha para a França, onde, na época, era feito o noviciado. Lá, ela permaneceu por sete anos, frequentando os cursos de Teologia, Letras e Música, tornando-se uma pianista sensível e convincente em suas interpretações. Mas, após esse longo período de preparação, Nedy decidiu não fazer os votos religiosos e retornou ao Brasil, voltando para o aconchego do lar de seus tios, que ela amava como se fossem seus pais.
Poucos anos depois, Nedy contraiu núpcias com o Sr. João Justino Fernandes. Desse casamento, nasceu uma filha, Cecília Maria Fernandes, que se tornou a pérola luminosa na vida de D. Amanda. Foi ela quem profetizou: “Esta menina vai se chamar Cecília (padroeira da Música) e vai se tornar uma grande pianista”. Cecília revelou-se a “netinha” adorável, a aluna exemplar e talentosa, que se destacava nas audições musicais desde criança. A menina fez com que o amoroso coração de D. Amanda transbordasse de amor e felicidade. Diplomou-se pelo Conservatório Estadual de Música de Uberlândia e, depois, concluiu o curso superior de música na Faculdade de Artes da Universidade Federal de Uberlândia. Cecília ganhou concursos de piano, realizou inúmeros recitais e tornou-se a menina dos olhos do maestro Camargo Guarniéri, na Universidade de Uberlândia. Após o término de seus estudos musicais, casou-se com o dentista Eduardo Borges Rezende. O casal foi morar em Apucarana (PR) e teve uma filha, Verena Fernandes Rezende, uma menina graciosa, que se tornou uma jovem muito bonita, vocacionada para a dança.
D. Amanda granjeou amigos entre seus alunos, muitos dos quais se tornaram musicistas que se projetaram em Uberlândia e até mesmo no exterior. Entre eles, destacaram-se: Cecília Maria Fernandes Rezende e Carlos Alberto Storti, sendo que este último foi laureado pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, tendo desempenhado importantes funções no Departamento de Música da UFU. Amanda foi também professora de piano de D. Cora Pavan Capparelli, que se tornou uma figura à parte no cenário musical uberlandense, responsável pela fundação do Conservatório Estadual de Música de Uberlândia, que hoje ostenta seu nome, e da Faculdade de Artes da Universidade Federal de Uberlândia.
D. Amanda foi, além de pianista, organista. Tocava também harmônio, ou órgão de foles, na Catedral de Santa Teresinha, na Praça Tubal Vilela, no coração de Uberlândia, até que, com o avanço da idade, já não conseguia subir os degraus da escada que dava acesso ao Coro. Deixou para a posteridade diversas composições musicais e algumas poesias. Tocou piano até o fim de seus dias, falecendo em 12 de junho de 1976, aos 93 anos. Uberlândia a homenageou com a Escola Municipal “Amanda Carneiro Teixeira”, destinada ao Ensino Fundamental, inaugurada em fevereiro de 2009, no bairro Brasil. Enquanto viveu, ela atuou como professora de Religião e exemplar mestra do piano. Se a natureza lhe deu um porte altivo, sua alma era humilde e plena de amor. Há mais de duas décadas, Cecília Maria passou a residir em nossa cidade com sua filha Verena. Uberaba tornou-se mais rica musicalmente com a intensa participação dessa talentosa pianista no cenário musical uberabense, que trouxe de volta um pouquinho da arte herdada de sua inesquecível “Dindinha”. Uma arte que atravessou três gerações.
Olga Maria Frange de Oliveira
Professora de piano; autora dos livros “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e “Mulheres na Música”; ocupa a cadeira n.º 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro