Domingo passado, 2 de fevereiro, a Catedral Metropolitana de Uberaba foi palco de uma missa pontifícia celebrada pelo nosso Arcebispo Dom Paulo Mendes Peixoto e concelebrada pelo Mons. Valmir Ribeiro e por Antônio Mendonça Bilharinho, Diácono permanente da Arquidiocese de Uberaba.
Após uma véspera chuvosa, com um temporal que caiu à noite deixando rastros de destruição por toda a cidade, a manhã de domingo surgiu calma e sem nuvens. De novo o céu trazia o azul, que escondera no dia anterior. O sol dourava de reflexos luminosos os vitrais da catedral. Tudo refletia luz e colaborava para o brilho crescente da manhã que se firmava.
A igreja estava ainda mais bela, com elaborados arranjos florais estrategicamente distribuídos nas imediações do altar-mor. Tudo foi preparado com muito carinho pelo Mons. Valmir, pároco da Catedral, para uma comemoração mais do que especial, pois a missa das 10 horas da manhã seria celebrada em comemoração do jubileu dos 200 anos de criação da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião.
Uberaba e a Igreja Matriz nasceram juntas, caminharam lado a lado e construíram suas histórias apoiando-se mutuamente.
O Coral Artístico Uberabense, convidado de primeira hora, compareceu em peso, com seus trinta integrantes e sua tecladista acompanhante, Ana Maria de Araújo Mancebo. Ostentando seu elegante uniforme azul cobalto, o coral irradiava alegria. Assim que chegaram, os cantores se dirigiram ao coro, localizado na parte superior, ao fundo do edifício. O local estava devidamente preparado para acolhê-los, com vários microfones posicionados e completa infraestrutura técnica sob a responsabilidade do simpático Rafael.
O início da cerimônia foi assinalado pelo som estrepitoso dos sinos, badalando alegremente, anunciando aos retardatários que o séquito religioso que aguardava junto à porta principal do templo faria sua entrada triunfal ao som das vozes harmoniosas do Coral Artístico entoando “Tollite Hostias”, de Saint-Saens.
Os fiéis já tinham ocupado todos os bancos disponibilizados. Lá na frente, três fileiras do lado esquerdo permaneciam vazias, aguardando as autoridades locais, que lamentavelmente não compareceram. O fato empanou o brilho da cerimônia por ter revelado a todos o total “descaso” do poder público para com tão relevante efeméride, incluída oficialmente nas comemorações do bicentenário de Uberaba.
Louvores sejam dados ao vereador e jornalista Rubério Santos, único vereador presente nesta cerimônia de fé e gratidão, porta-voz da comunidade católica na Câmara Municipal de Uberaba.
Na homilia, nosso Arcebispo, Dom Paulo, manifestou sua decepção quando indagou:
“- Onde estão as autoridades que deveriam estar aqui hoje comemorando conosco os 200 anos da nossa Catedral? Não atenderam ao nosso convite. Com certeza devem ter assumido compromissos mais importantes do que este. É uma pena!”
Um dos momentos mais significativos da celebração foi a benção das velas, simbolizando Deus, fonte e origem de toda luz. Na liturgia católica, o dia 2 de fevereiro reveste-se de alto significado por ser a data em que Maria e José apresentaram Jesus ao templo. Simboliza os pais entregando o próprio filho a Deus e este mesmo Deus misericordioso o devolvendo à humanidade para ser a “luz das nações”.
O Kyrie, Glória, Sanctus e Benedictus da Missa “Te Deum Laudamus”, do compositor italiano Lorenzo Perosi, proporcionaram momentos de profunda sublimação com a alternância dos solistas Cleide de Souza Fernandes (soprano) e Henrique Nominato (tenor), contrastando com as interferências impactantes do coro.
A participação do grupo “Vozes Gregorianas”, sob a coordenação do teólogo João Ribeiro da Silva Filho, emocionou a todos os fiéis pela excelência das vozes e por introduzir no culto a música oficial da igreja católica, interpretando o “Credo” e o “Pater Noster”. Neste momento, o passado e o presente se fundiram magistralmente.
No final, a “Ave Maria” de Arcadelt e o Hino a Cristo Rei encerraram com pompa e circunstância o evento comemorativo do bicentenário da Igreja Matriz de Uberaba.
O Coral Artístico Uberabense fez aflorar em cada um dos presentes as emoções represadas. E as emoções nada mais são do que as cores da alma. Dessa forma, a música do CAU tingiu com as cores mais belas o interior da Catedral, símbolo da fé da nossa valorosa gente do planalto central do Brasil!
(*) Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba e ex-diretora-geral da Fundação Cultural de Uberaba