O Canto Gregoriano é um canto milenar, com texto em latim. Utiliza apenas um instrumento: a voz humana, quase sempre “a cappella”, pois raramente possui acompanhamento. Também chamado cantochão, é utilizado nos cantos da liturgia e dos ofícios da Igreja Católica Apostólica Romana.
O gregoriano usa a acústica do templo religioso para ressaltar as vozes e criar um efeito sonoro especial que nos remete a um estado de elevação espiritual inigualável. As vozes são amplificadas pela execução dos cantores numa unidade perfeitamente homogênea. O todo se transforma numa só voz. Dessa forma, o gregoriano é, em síntese, um canto litúrgico monofônico, realizado em uníssono por um coro formado normalmente por monges.
O valor essencial do Canto Gregoriano deve-se à sua profunda espiritualidade, que fundamenta, orienta e justifica sua incomparável aptidão para exprimir a oração. Seus textos cantados são, via de regra, extraídos da Sagrada Escritura ou nela diretamente inspirados. O repertório autêntico gregoriano formou-se na alta Idade Média e é quase sempre anônimo.
No ano 600, o Papa Gregório Magno reuniu e sistematizou as diferentes liturgias ocidentais, iniciando assim o agrupamento das melodias religiosas que, mais tarde, teriam o nome de Canto Gregoriano, que atingiu seu apogeu entre os anos 700 e 900.
O gregoriano representa a continuidade da tradição musical da Igreja desde o século VI. O termo “gregoriano”, homenageando São Gregório, é usado para designar o canto oficial da Igreja Católica. Esse canto é monódico, modal, de ritmo livre e linha melódica simples, sem elementos harmônicos ou polifônicos. Tradicionalmente, é cantado por um coro de vozes masculinas, com texto em latim e sem acompanhamento instrumental.
Ao longo dos séculos, a Ordem Beneditina assumiu a missão de preservar a prática do Canto Gregoriano em sua pureza e originalidade. Uma tarefa que eles executam com dedicação ímpar!
Em 1980, aos quarenta anos, João Ribeiro da Silva Filho mudou-se com a família para Uberaba, vindos de Belo Horizonte. Aqui, João Ribeiro e sua esposa, Vanda, tornaram-se colaboradores incansáveis da Ordem Dominicana, frequentando assiduamente a igreja São Domingos e a Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores. Logo, o Sr. João passou a participar do Coral Artístico Uberabense, que fazia seus ensaios em uma sala do Instituto Musical Uberabense, sediado em prédio do colégio das irmãs dominicanas.
Há cerca de oito anos, João Ribeiro criou o grupo vocal “Vozes Gregorianas”, que veio dar continuidade, com um novo nome e alguns ajustes, a um trabalho iniciado em meados de 2005 com o grupo “Schola Cantorum Sanctus Gregorius Magnus”, do qual ele fazia parte. Os integrantes do grupo permaneceram unidos em torno do mesmo objetivo, pois tinham em comum a fé católica e a paixão pelo Canto Gregoriano. Sob a liderança do barítono João Ribeiro da Silva Filho, o novo grupo vocal foi se firmando pouco a pouco. João Ribeiro é estudioso do gregoriano, música sacra que ele conheceu ainda menino, aos 12 anos de idade, quando ingressou no “Seminário da Congregação dos Sagrados Corações”, em Ferraz de Vasconcelos (SP), além de ser filósofo e teólogo por formação.
Atualmente, o grupo conta com os seguintes cantores: João Ribeiro da Silva Filho, Mário Cézar Cardoso Assis, Henrique Nominato, Chesman França Aires, João Batista, João Ricardo e José Carlos Lau. Não podemos deixar de mencionar o nome do Sr. Johannes Alphonsus Maria Kasbergen, holandês de saudosa memória, um tenor apaixonado pelo gregoriano, que também deu enorme colaboração para a futura existência deste grupo.
No dia dedicado a São José, 19 de março do corrente ano, tive oportunidade de assistir à Missa do quarto domingo da quaresma na igreja São Domingos, às 19 horas. O celebrante foi Frei José Almy Gomes, também dono de uma bela voz. O coro “Vozes Gregorianas” selecionou nada menos que treze obras do melhor repertório do gênero. Entre elas, quatro partes da Missa XVII (Kyrie Eleison; Sanctus; Agnus Dei e Deo Gratias). Somaram-se a estas outras pérolas do gregoriano, como: “Salve Regina”, Pater Noster, Ecce Panis Angelorum e Attende Domine, entre outras.
A igreja São Domingos estava repleta de devotos e todos nós nos sentimos transportados para a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Frei José Almy celebrou todas as partes da missa, inclusive o extenso evangelho do dia, em forma de recitativo. Uma cerimônia religiosa para se guardar na memória.
Tenho certeza de que o grupo “Vozes Gregorianas” revelou, uma vez mais, a vocação musical de primeira linha que dá continuidade aos passos dos “Pioneiros da História da Música em Uberaba”. Parabéns, Sr. João Ribeiro, pelo trabalho exemplar que o senhor vem realizando para a glória de Deus com seus valorosos cantores!
Quero dizer-lhe, Sr. João, que seus amigos sabem que o senhor está passando por um período de turbulência em relação à sua saúde. Hermann Hesse nos legou este belo pensamento: “Aos caminhos fáceis Deus encaminha apenas os fracos”. Encare, caro amigo, estes dias difíceis como um guerreiro de elevada estatura moral. Apoie-se em sua família, D. Vanda Elisabete e suas encantadoras filhas, Raquel, Débora e Simone, que derramam diuturnamente sobre o senhor altas doses de amor. Esse é o bálsamo que aliviará suas dores. Tenha certeza de que todos nós, seus amigos, familiares e admiradores estaremos unidos em nossas orações. A força decisiva terá de vir da sua fé, que sempre esteve presente em sua vida. E nunca se esqueça de que Deus é infinito em sua misericórdia!
Olga Maria Frange de Oliveira
(Professora de piano; autora dos livros “Pioneiros da História da Música em Uberaba” e “Mulheres na Música”; ocupa a cadeira n.º 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro)