Zilda Mello, que se tornou uma das mais destacadas cantoras do rádio em âmbito nacional, iniciou sua brilhante carreira artística em Uberaba, em meados da década de 1930. Ainda muito jovem, cantava em festivais de amadores e espetáculos realizados no Cine Royal pelos amantes da arte e da música em nossos meios sociais. Desde os primeiros trabalhos, já revelava um talento diferenciado para a interpretação fiel de nossos mais festejados compositores de sambas e canções ligeiras.
Sua carreira profissional começou no microfone da PRE-5, onde por muito tempo foi atração de primeira linha, conquistando seus primeiros fãs e merecendo as mais elogiosas referências da imprensa local. Foi ali que a festejada artista descobriu a sua vocação para o canto e ensaiou seus primeiros “trinados”.
Depois de colher os aplausos de seus conterrâneos, Zilda Mello resolveu procurar novos centros artísticos que lhe abrissem mais amplas possibilidades na carreira. Foi para Belo Horizonte, em 1940, e se submeteu a uma série de testes na Rádio Inconfidência, conseguindo ingressar no seu “broadcasting”, onde consolidou uma fulgurante carreira. Nesse primeiro ano na capital montanhesa, fez jus a seguidas críticas favoráveis na imprensa, que repercutiram no jornal “Carioca”, do Rio de Janeiro, na coluna dedicada ao “Noticiário de Minas”: “Uma sambista que cada vez mais se impõe à admiração dos rádio-ouvintes – Zilda Mello, pertencente ao cast da PRI-3”. Ou, ainda, “Vejam o sorriso dela: é um convite ao samba... Ouçam-lhe a voz: é um ultimatum... Chama-se Zilda Mello, veio de Uberaba, está em Belo Horizonte e atua na Rádio Inconfidência”. Fechando o ano de 1940, o Semanário “Fon Fon”, da capital do país, registrou em 7 de dezembr “Três figuras de projeção do rádio mineir 1) Dindinha Alegria, orientadora do grande programa infantil da Rádio Inconfidência, é a sra. Magda Ladeira, da alta sociedade belo-horizontina; 2) Zilda Mello é a sambista nº 1 do broadcasting de Minas Gerais; 3) Emília Pinto, admirável soprano, abrilhanta o cast da PRI-3”.
Se aqui, em Uberaba, Zilda já era uma cantora de muito cartaz e com um sem-número de admiradores, maior foi seu sucesso na capital das alterosas, onde seu nome logo se projetou por todo o Estado nas ondas da emissora oficial. A cantora uberabense permaneceu na Rádio Inconfidência por quatro anos (1940, 1941, 1942 e 1943). Em 30 de março de 1943, o magazine mensal do Rio, “A Cena Muda”, publicou extensa matéria sob o título “A Rádio de Minas em Revista”, com uma longa entrevista realizada por Brandão Reis com a conhecida cantora Zilda Mello. Nessa entrevista consta que a Rádio Inconfidência iria lançar brevemente uma cantora de músicas mexicanas, elemento do seu cast que havia resolvido interpretar agora os mais belos boleros. A notícia não revelava, porém, o nome da “estrela”. E as rodinhas de fofocas especulavam... Quem seria? Quem não seria? As mais variadas hipóteses foram aventadas. Foi quando a direção da emissora oficial, atiçando ainda mais a onda de curiosidade lançou um concurso para a escolha do nome artístico da sua nova atração. Surgiram sugestões de todos os lados. Aos milhares! Até que uma comissão, em que figurava o conhecido Chico Lessa, escolheu o nome vitorios Maria D’Ávila. Um nome cheio de romance e poesia. E eis que, na noite da estreia, a revelação da misteriosa cantora surpreendeu a todos: Maria D’Ávila era nada mais, nada menos, que a queridíssima Zilda Mello, ex-intérprete de sambas da PRI-3. Felicíssima, Zilda declarou ao entrevistador: “Troquei o samba pelo bolero e estou realizada. Sempre gostei do samba. Cantava-o com alma e emoção. Sou cem por cento nacionalista. Mas a canção mexicana tem alma, alma demais... e era isso que eu buscava. Não sei como agradecer à Direção da emissora oficial, que me proporcionou esta magnífica chance. Em especial, ao Dr. Narbal Mont’Alvão e ao Dr. J. Carlos Lisboa, que trabalhou comigo a pronúncia e colaborou na seleção do repertório, com páginas encantadoras, com Frenesi, Besame Mucho, Vem Acá, Desesperadamente, Noche de Luna, Naufragio, Rival, Amor, Triste Camino, Mi Oracion, Que te vaya bien... e tantos outros sucessos”.
Em 16 de dezembro de 1943, Zilda veio visitar sua família em Uberaba, em busca de autorização dos pais para assinar um contrato com uma emissora paulista. Segundo a imprensa uberabense, fora o locutor Urbano Loes, nome de prestígio na capital do país, Zilda Mello era a única artista uberabense que triunfou no rádio em âmbito nacional. No Rio, também lhe propuseram um excelente contrato. Todos os caminhos se abriam. Com o aval dos pais, Zildinha seguiu para São Paulo no início de 1944, contratada pela Rádio Cultura e, também, pela Record, onde veio a conquistar o coração do público paulistano. Em São Paulo, Zilda Mello cuidou de se aperfeiçoar ainda mais em sua arte, dedicando-se também à música mexicana, sob o pseudônimo de Maria D’Ávila, tornando-se apreciada intérprete das canções da terra de Agustin Lara.
Em 10 de julho de 1948, o jornal Lavoura e Comércio registra que Zilda Mello seguiu para a Bahia, onde deveria cumprir intensa agenda de compromissos. O jornalista conclui, com orgulh “Com a projeção do seu nome pelas ondas do rádio, também se envaidece Uberaba, onde ela nasceu e iniciou a sua carreira, já tão brilhante”.
Olga Maria Frange de Oliveira
Ex-Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba, autora do livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”, ocupa a cadeira nº 15 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro