OSMAR BARONI

De anatomia e samba

Osmar Baroni
Publicado em 30/01/2023 às 17:50
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Basta um pouco de paciência e muita curiosidade para encontrar na literatura apropriada histórias de profissionais liberais das mais diversificadas áreas compartilhando seu valioso tempo com a cultura da nossa MPB. Curto de longa data a exitosa trajetória musical e profissional do Doutor Paulo Emilio Vanzolini (25.04.1924/28.04.2013).

Após ter concluído o curso ginasial, ingressou na Faculdade de Medicina da USP, no curso de Biologia, vocação despertada desde criança, quando seu pai o levou para visitar o Museu Butantan; entretanto, todo o tempo do passeio fora dedicado aos répteis: tartaruga, jacaré, lagarto e cobra. Obedecendo ao seu desígnio, após conclusão do curso na USP, embarca para os Estados Unidos, retornando ao Brasil com diploma de Doutorado pela Universidade de Harvard, o que lhe valeu uma atividade científica no museu, que o fascinou por mais de 50 anos, na função de Diretor, no período de 1962 a 1993, quando se aposentou. Aí, sim, assumiu sem o menor constrangimento a condição de boêmio em tempo integral. Ao longo de seus 89 anos bem vividos, o biólogo e compositor nunca apelou para a autopromoção, muito pelo contrário. Sempre sisudo e de uma lealdade nata, granjeadora do maior respeito e admiração de todos com os quais convivia. Compunha uma canção sem se preocupar se o público iria ou não gostar. Um repórter fotográfico conseguiu flagrar seus dentes à mostra em raro momento e obter um prêmio pela fotografia.

Guardo uma entrevista do jornalista Luiz Fernando Viana que sintetiza a sensibilidade do personagem em questão: “Especialista em cobras e lagartos, Vanzolini também se especializou na fauna da noite paulistana, pessoas de “perdida felicidade”, que andam “pela neblina envolvidas”. “Com precisão de cientista, mas olhos de poeta, dissecou essa gente como nenhum compositor.”

Doutor Paulo Emílio Vanzolini será sempre lembrado por, aproximadamente, cinquenta composições: “De noite eu rondo a cidade/A te procurar, sem encontrar/No meio de olhares espio/Em todos os bares você não está/Volto pra casa abatida/Desencatada da vida/O sonho alegria me dá/Nele você está...

Segundo o autor, esse samba-canção foi produto de habitual patrulhamento realizado a pé quando cumpria o serviço obrigatório militar no baixo meretrício entre o Bom Retiro e a região da avenida São João. “Cansei de ver mulher chegar na frente do bar, olhar para dentro como se procurasse alguém e ir embora”, declarou numa entrevista, tarefa que não tinha paciência de enfrentar, concluindo: “nunca fiz música profissionalmente porque nunca considerei esta atividade como minha profissão”.

Avesso a homenagens, ele não conseguiu impedir que seus amigos Luiz Carlos Paraná (dono da Boate Jogral) e Marcus Pereira (Dono da Agência Publicitária) produzissem um disco com músicas suas nas vozes de Chico Buarque, Toquinho, Paulo Marques e Carmem Costa. Em 1997, foi homenageada com show a sua nova música: “Quando eu for, vou sem pena”.

 Osmar Baroni

Cirurgião-dentista

Academia de Letras do Triângulo Mineiro

chorocultura@yahoo.com.br

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