ARTICULISTAS

O Choro nasceu para ser eterno

Osmar Baroni
Publicado em 22/04/2022 às 20:35Atualizado em 18/12/2022 às 19:23
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“Meu coração

Não sei por quê

Bate feliz quando te vê...

E os meus olhos ficam sorrindo,

E pelas ruas vão te seguindo,

Mas mesmo assim,

Foges de mim.” (Pixinguinha/João de Barro)

Mal comparando, num passado muito distante, nossos ancestrais se valiam das mais variadas “simpatias” para descobrir o sexo daquele minúsculo ser alojado na barriga das nossas amáveis vovós e o resultado era transmitido para a aflita família. Os mais descrentes carregavam “na manga da camisa” um nome de cada sexo. Crendice à parte, ninguém poderia imaginar que a primeira manifestação vocal dos bebês, o choro, viria um dia a ser comparado com um dos mais eloquentes gêneros da música popular brasileira. Músicos que desfrutam do maior respeito de todo o pessoal do ramo têm evidenciado que o andamento melódico do choro traz em seu bojo uma malemolência singular, daí a razão desse gênero musical adotar o termo “choro”.

Embora haja lógica quanto à aceitação da atual terminologia, é edificante o debate quando qualificados compositores, músicos e pesquisadores sugerem um comprometimento robusto para suscitar maior crédito das evidências. Aliás, quem entrou pra valer nesse debate muito significativo para a nossa cultura musical foi o genial músico, pesquisador, escritor e autor do mais recente trabalho literário, Pedro Aragão “O baú do Animal” lançado pela editora “Folha Seca”. Peço licença ao autor para transcrever parte sobre as controvérsias da origem do nome: “no que diz respeito às etimológicas origens do nome, as interpretações variam entre cinco hipóteses: a) na versão de Cascudo, ele vê a palavra como corruptela do termo xolo, identificado como designação africana para “bailes de negros realizados em dias de festas”; b) na versão de Mozart Araújo, a palavra viria da expressão dolente e chorosa da música que aqueles grupos executavam; d) a versão de Vasconcelos, a palavra choro, seria derivada da expressão choromeleiros (corporação de músicos atuantes no período colonial brasileiro), e para Batista Siqueira, a expressão teria vindo da corruptela da expressão latina “chorus”, empregada erroneamente em um dos catálogos da Casa Edson; já a versão do musicólogo Curt Lange (1980), aponta para uma possível incorporação do termo alemão chöre, utilizado para designar grupos corais e instrumentais do sul do país. A bibliografia clássica, porém, ressalta que o choro nasceria como um jeito de se tocar as danças europeias, sendo que este jeito pressupunha sempre algo ligado à sincopação tida como africana.

Como se sabe, é um tema polêmico e os neurônios de muita gente vão continuar a ferver.

A infância e juventude não me permitiram dedicação maior, nada que me trouxesse remorso ou frustração. Naquela fase da minha vida, o projeto era outro e, graças a Deus e à perseverança do senhor Ernesto e dona Ernesta, concluí o curso Superior. A eles sou eternamente grato e dedico o meu diploma.

Mesmo com a minha agenda profissional tomada, sempre respirei em outras florestas o aroma relaxante que me permitia o devaneio de encontrar nas construções das vozes e nos acordes dos instrumentos um caminho, para que, se não tivesse a oportunidade de executá-los, ao menos assumisse a responsabilidade de divulgá-los.

Durante os anos 1996 a 2010, tive a honra de escrever um artigo semanal, abordando basicamente o choro e seus chorões, e hoje, com a benevolência da direção do Jornal da Manhã, tenho um grato encontro mensal com os queridos leitores deste jornal.

Dia Nacional do Choro; a propósito, convido os prezados admiradores da música brasileira para juntos comemorarmos o 23 de Abril (neste sábado) no Bar Meu Chorinho, rua Luxemburgo, 926, Boa Vista.

Osmar Baroni

Cirurgião-dentista, integrante da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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