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Namorado(a) de IA: quem disse que você precisa mesmo ter um(a)?

Renan Cola
Publicado em 02/10/2025 às 18:19
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Você teria um(a) namorado(a) de inteligência artificial? Pode ser que sim. Pelo menos é o que diz um estudo desenvolvido pela empresa Joi AI. Nele, 2.000 membros da Geração Z foram entrevistados para chegar à constatação: 80% deles disseram que se casariam com um parceiro de IA, com 83% afirmando que conseguem desenvolver laços profundos com um robô.

De acordo com Jaime Bronstein, especialista em relacionamento da companhia, relationship coach número 1 dos Estados Unidos e autora do livro Man*ifesting: A Step-By-Step Guide to Attracting the Love That Is Meant for You, o jovem hipermoderno sente-se cada vez mais só. Por conta disso, ele quer recorrer a um suporte emocional que estará sempre lá quando ele precisar.

“Foi por conta disso que a Joi AI foi criada”, acrescenta. Utilizando-se do conceito mercadológico AI-lationships, neologismo que combina os vocábulos provenientes da língua inglesa “AI” (inteligência artificial) + “relationships” (relacionamentos), cerca de 200 funcionários colocam-se à disposição para oferecer o companheiro dos seus sonhos em apenas um único minuto.

Caso precise escolher a cara-metade com um toque ainda mais ousado, por que não optar pelo avatar de uma celebridade? No site da organização, é possível selecionar parceiros virtuais do sexo masculino que são semelhantes a grandes nomes do mercado internacional, como Tom Cruise, Leonardo DiCaprio e Brad Pitt. Para o feminino, Angelina Jolie figura no topo do interesse.

É por este motivo que, no Brasil, a oferta deste tipo de serviço também começou. Caminhando de mãos dadas com a Joi AI, a concorrente Replika está solta na pista. Disponibilizando-se para match, basta que o usuário acesse o site da marca e se defronte com o discurso comunicacional: “não é um(a) namorado(a), mas ele (ela) te acalma todas as noites”. Ideal para os mais carentes.

Aqui, a estratégia de negócio é semelhante. O aplicativo 90% parecido com humano não quer roubar espaço das pessoas, só “inspirá-lo(a), fazendo-o(a) acordar feliz”. Assim, é responder ao questionamento “que tipo de homem (mulher) chama a sua atenção?”, clicar nos atributos biopsicológicos que mais lhe agrada e pronto: o amante dos sonhos estará pronto para uso.  

Será que vale a pena? De acordo com a psicologia profunda, ciência que estuda os fenômenos inconscientes da mente, relacionar-se com um protótipo não-humano significa envolver-se com o objeto ideal. Ou seja, à medida que os indivíduos idealizam o namorado(a) perfeito e partem em busca da sua aquisição, eles estão dizendo para a sua psique que preferem viver na fantasia.

Esta fantasia é a mesma fantasia que o bebê imagina em sua mente quando a sua mãe o priva de uma determinada fonte de prazer. Pode ser, por exemplo, que esta criança comece a pensar que a sua genitora é uma fonte inesgotável de leite, mesmo quando ela não o alimenta da maneira como deveria, colocando uma imagem de perfeição no lugar de uma falta significativa.

Nesta linha de raciocínio, toda vez que uma frustração surgir em sua vida, como é o caso da solidão que as pessoas da Geração Z sentem, ela irá recorrer a um subterfúgio idealizado. Deste modo, o objeto ideal vai se deslocando na linha do tempo deste sujeito, sendo substituído, mais tarde, por este androide romântico perfeito, que ocupa exatamente o mesmo lugar desta mãe.

A consequência é um relacionamento que não possui vínculos fortes o suficiente para se manter na realidade, podendo ser substituído facilmente por uma nova aspiração fantasiosa. Afinal, uma vez que a psique diz “sim” para uma relação de objeto imaginativa, existe 60% de chance de um novo elo utópico entrar em cena, o que gera uma cascata de comportamentos psicoides.

Primeiro, é o vibrador que reconforta na ausência de um(a) parceiro(a). Depois, vem o(a) tal do namorado(a) de IA, tornando as suas noites ainda mais alienantes. O resultado é a indagação: quem pode prever onde essa fantasia de idealização irá parar? Talvez você escape lúcido dessa, sem sequelas. Talvez o contrário aconteça. Então, para este tipo de relação, você deve dizer não.

 Psicanalista

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