No fim de semana, fiz uma viagem a São Paulo. Viagem rápida para visitar uns parentes. Não pensei duas vezes, fui de carro. Trem de ferro não tem mais, é pena. Não adianta reclamar do que já se foi, mas fiz boas viagens no trem de passageiros da antiga Mogiana. Viagem interminável, com baldeação em Campinas, mas tinha seu charme. De avião, nunca se sabe, ora tem voos, ora não tem, e o preço é pela hora da morte. No passado, consta que a viagem de Uberaba a São Paulo era feita a cavalo, de carro de boi, de carroça. Não sou dessa época. Meu avô, que me levou pela primeira vez à capital paulista, nos anos 1960, contou-me que essa mesma viagem demorava um dia inteiro, em estrada não pavimentada. Outros tempos.
Hoje, chega a ser monótona. Estrada moderna, elogiada nas publicações especializadas, cobiçada nas licitações. Até quando existirá como via preferencial de ligação entre Minas Gerais, Goiás, São Paulo e a capital federal? Ao iniciar o trajeto, ainda em Minas, imagino um futuro hipotético em que bastará entrar com o carro numa máquina, um mecanismo ultramoderno será conectado ao veículo e o conduzirá até o destino, sem maiores percalços, sem intervenção humana. São divagações de um motorista insone.
Com os carros cada vez mais inteligentes, automáticos e tecnológicos, a solidão e o silêncio ameaçam tomar conta da viagem. Arrisco a dizer que a paisagem quase não muda. Extensos canaviais dominam boa parte do caminho. Não sei mais onde termina o Cerrado e começa a Mata Atlântica. A vegetação nativa ficou no passado. Animais da fauna local não cruzam mais a pista: ou aprenderam a atravessar a rodovia ou estão extintos. A solução é abusar da criatividade na hora de escolher a trilha sonora e ousar na imaginação para driblar o sono.
O tédio é quebrado pelos onze pedágios entre a divisa de Minas e a capital paulista. Onze, você leu certo, achou exagerado? É porque não te contei o preço. Um pedágio a cada 43 quilômetros, em média. Não vejo inteligibilidade nessa escolha, a não ser distrair os motoristas para evitar que eles durmam no trecho. Difícil é dar bom-dia, boa-tarde e boa-noite para os esforçados atendentes, mas não adianta reclamar, eles não têm autonomia para decidirem nada, sequer opinar sobre o destino de quem passa pra cima e pra baixo.
Que estratégia de mobilidade é essa que privilegia o carro em detrimento do trem, do avião e das bicicletas? Mas essa é uma conversa antiga, de no mínimo sessenta anos. Fico triste ao perceber que, se as rodovias melhoraram muito com o passar do tempo, diversas opções não foram adiante. Que interesses outros determinam nossos deslocamentos? E eu nem falei dos radares, das câmeras e de outros sistemas de controle existentes na via.
Renato Muniz B. Carvalho