De quantos objetos uma pessoa precisa para viver? Cem, duzentos, mil? É chute, pois eu não sei. É mera especulação. Alguém já contou? Depende de quem estamos falando, da classe social, do país, da região, do clima, etc. Numa casa grande cabem mais objetos; numa casa pequena cabem menos, talvez. Observe um morador de rua; o que ele carrega? Um cobertor velho, sacolas plásticas, papel e papelão para forrar a calçada, algumas latas para servir de copo, panela, um isqueiro, uma colher. Se possui uma faca, vão chamá-lo de violento, de agressivo. Agressivo é o que a vida aprontou com ele, e não dá para dizer que faltou empenho pessoal.
Nas roças que eu frequentava no passado, havia casas muito simples e rústicas. Isso foi num período em que não existia televisão nem eletricidade. A televisão impulsionou o consumo, mais do que o rádio. Muitas famílias tinham meia dúzia de xícaras de café esmaltadas e um bule, itens obrigatórios. As visitas não iam embora sem antes tomar um cafezinho. E mais: encostadas numa parede, sempre a postos, enxadas, foice, machado. Dentro de casa, bancos de madeira, uma ou outra prateleira com uma imagem religiosa. Na parede, um ou vários calendários.
Nas cidades, dependendo da casa, do bairro, das posses, os objetos se multiplicam, desde os eletrodomésticos até enfeites, quadros, louça, livros – estes aparecem em poucas casas –, móveis, tapetes, roupas… Conheci residências abarrotadas de coisas, geralmente quinquilharias. Escrevendo isso, ninguém mais vai me convidar para visitar suas casas, pois estou me revelando um bisbilhoteiro. Quem nunca?
Um grande vaso verde sobre a mesa chamava minha atenção quando ia visitar minha avó. Sem flores, só o vaso. Eu ficava pensando na utilidade daquilo. Cadê as flores? Morreram? Ainda virão? Murcharam? Mas eu gostava era de ir até o armário da cozinha e destampar as latas cheias de biscoitos, abrir a geladeira e decidir qual doce eu queria comer primeiro: doce de leite ou doce de figo? Com uma fatia de queijo, é claro! E aquele objeto verde em cima da mesa? Por quê? Não importa mais. Deixa pra lá!
Olho para minha mesa de trabalho e vejo um porta-retratos, uma calculadora, a impressora e uma pedra lisa de rio que uso como peso para evitar que os papéis voem pela janela aberta caso sopre um vento sul. Coisas que importam ou não. Às vezes, se forma uma pilha de livros que vão e vem num movimento constante, como ondas na praia. Assim como chegam, vão embora. Nunca deixo de ao menos folhear; por alguns tenho um carinho especial. Ah, o celular, sempre presente: que praga! Somos nós que o controlamos ou é ele que nos controla?
Sabem o que devia nos preocupar? A mercantilização das pessoas: gente e outros seres maltratados, embrutecidos, tratados como objetos. A coisificação da vida assusta, entristece.
Renato Muniz B. Carvalho