Em quase todas as escolas, são visíveis ações relacionadas aos livros e à leitura: docentes, direção e discentes falam, escrevem, divulgam, estimulam, pregam cartazes, promovem eventos, etc. Basta ir a uma escola e observar quanta visibilidade se atribui ao tema. Basta visitar a biblioteca escolar e verificar como está cheia, até demais, de livros. Pena que muitas bibliotecas foram transformadas em locais onde os livros didáticos é que predominam; às vezes, as bibliotecas funcionam como locais de depósito, ainda que de livros. No pátio e na cantina é comum ver alguns alunos com livros nas mãos, mas a maioria está preocupada com outras coisas, com certeza! A sensação é a de que falta alguma peça na engrenagem, parece que alguém se esqueceu de algo importante.
Parece que falta leitura, de fato! Leitura de livros, leitura de textos mais substanciais, de textos que vão além dos poucos caracteres minguados, típicos das mensagens nas redes sociais e das figurinhas. Não se vê muito, nas dependências das escolas, alunos e professores lendo livros como prática cotidiana e espontânea. Pior: não é costume ver alunos e professores conversando sobre suas leituras, sobre livros, autores e literatura.
Não se trata de reforçar convencionalismos, mas de enxergar de outro modo a questão. Escrever, festejar, curtir os livros é essencial, faz parte do jogo, do processo, mas o que se espera é que professores e estudantes de fato se envolvam, pratiquem a leitura: de livros, principalmente, sem discriminar formatos ou mídias: podem ser livros de papel e digitais, por que não?
Os professores leem? O que leem? Comentam com os alunos e entre si os livros que estão lendo? Não vamos crucificar os docentes, mas, dizem que leem pouco, leem menos do que deveriam, e nem sempre a culpa é deles. Fala sério, deveriam ler mais, bem mais!
Não leem por vários motivos: porque não têm tempo, porque trabalham em várias escolas, têm muitas aulas para preparar e muitas provas para corrigir, têm de desenvolver projetos, têm de preencher diários, têm de escrever relatórios, têm de cumprir horários, participar de reuniões, têm de “ralar” para sobreviver. Não leem porque não têm com quem conversar sobre suas leituras, os colegas não leem ou só conversam sobre outros assuntos que não os livros que leram, ou não leram. Para piorar o quadro, não compram revistas especializadas e perdem tempo e dinheiro, que não têm, com publicações mentirosas e tendenciosas, com publicações que fazem da venda de mercadorias seu único objetivo. O que resulta daí é que eles não têm – ou têm poucas – informações sobre livros e autores.
Existem as melhores desculpas do mundo para não ler, mas muitos conseguem furar bloqueios históricos erguidos contra a leitura de livros. É preciso mudar certas práticas, inverter processos e raciocínios, valorizar o pensamento crítico e combater preconceitos. Vamos conversar sobre livros?