Não temos escapatória, mais cedo ou mais tarde, tudo chega ao fim, encerra-se, acaba. Se alguém ainda tem ilusões a esse respeito, é melhor reconsiderar e desistir das vãs esperanças. É lícito pensar nos mais variados exemplos, mas aqui me refiro à agonizante tarde da última quinta-feira.
Os avisos começaram a ser observados ainda na parte da manhã. Era evidente que aquela quinta-feira não duraria para sempre. Dava para notar o semblante de preocupação dos que se dirigiam ao trabalho, fosse no transporte coletivo, de carro, a pé ou de bicicleta. Mesmo esses últimos, sempre tão confiantes e animados, estavam inquietos. Pode ser que alguém tenha resolvido retornar pra casa mais cedo, talvez para buscar um guarda-chuva esquecido, pois as nuvens anunciavam tempestades no fim do dia, previsões confirmadas pelos serviços de meteorologia. Talvez um mal-estar súbito ou uma dor de cabeça persistente desde a noite anterior tenha forçado a volta antecipada. Muitos nem puseram os pés pra fora, enquanto outros não se levantaram da cama. Não dá pra dizer que era premonição ou mau agouro.
O dia transcorreu como esperado. Muito trabalho, muitas alegrias e tristezas espalhadas de ponta a ponta. As lojas venderam; as fábricas produziram; os ônibus circularam; os aviões levantaram voo e aterrissaram sem grandes sobressaltos. Balconistas atenderam os fregueses; profissionais liberais cumpriram suas agendas. Professores tentaram desempenhar seu dever, conduzindo suas salas de aula de modo a garantir a expectativa de um mundo melhor, independentemente de malsucedidas quintas-feiras.
Por volta das 16 horas, era nítido que o dia chegaria ao fim. As pessoas nas ruas olhavam apreensivas seus relógios — aquelas que ainda acreditavam em relógios de pulso —, a maioria consultava seus celulares. Ah, que saudade do radinho de pilha! Havia uma sensação de que o tempo não passava, a tarde seguia arrastada, lenta, mas inexorável em sua trajetória rumo ao desfecho. O dia chegaria ao fim, quer a gente quisesse ou não. Alguns ficaram pelo caminho, nos bares, nas lanchonetes, nos shopping centers, onde o tempo não muda nunca. A maioria acelerou o passo, olhou para o céu, consultou as nuvens, interpretou como quis a grossa camada cinzenta que se formava sobre suas cabeças. Teve quem sentiu uma gota pingar nos cabelos desalinhados pelo vento e pela pressa.
Apreensão era a palavra exata, se é que se pode encontrar exatidão numa palavra tão subjetiva. Às 17h30, os pontos de ônibus e estações de trem já estavam lotados. Buzinas aumentavam a irritação de motoristas e pedestres. Nessas horas, os semáforos fecham muito rápido e os idosos ficam pelo caminho. As motos disparam na frente, mas também não conseguirão evitar o fim da quinta-feira. Muita gente boa não vai dar conta de cumprir seus compromissos, não chegará ao seu destino antes do fechamento das portas. Então, virá a noite e a confirmação de que a quinta-feira chegou ao fim.
Renato Muniz B. Carvalho