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Agora vai!

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 01/08/2022 às 19:04Atualizado em 18/12/2022 às 21:36
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Li nos jornais que a Câmara de Vereadores de um município de Santa Catarina deve discutir a proibição da prática do nudismo numa famosa praia local. Fiquei animado! Isso pode ser a solução dos nossos problemas. Imagine a fome, o analfabetismo, o desemprego, a inflação, as ameaças de golpe, etc., tudo isso desaparecerá ou será, no mínimo, esquecido diante desta relevante iniciativa: o fim do nudismo. Finalmente, um debate apropriado ao atual cenário político brasileiro!

Aproveitando para surfar a onda dos edis sulistas, vou propor que as crianças venham ao mundo devidamente vestidas, traje completo. Como a ciência anda muito evoluída, geneticistas deveriam ocupar-se em criar artifícios para fazer com que bebês sejam gestados já com roupinhas. Que gracinha! Desde a concepção, mamães e papais poderão escolher, conforme o clima e a data do nascimento, qual o estilo das vestes dos filhotes. É claro que o azul e o rosa serão recordistas e mais recomendados, mas outras cores também serão oferecidas. Modelos e estilos existirão para todos os gostos. Imaginem a cena: um bebê nascer vestidinho, pronto para estrear neste vasto e surpreendente mundo. Como se sabe que o hábito faz o monge, a roupa já aparecerá determinando muita coisa, eliminando-se o livre-arbítrio causador de dúvidas existenciais e de outros sentimentos complexos e carregados de perplexidades.

É claro que isso é só o começo. Outras regulamentações sobre o assunto virão. Por exemplo, o comprimento das saias, o uso adequado de ternos e gravatas e os uniformes escolares, da Pré-Escola à pós-graduação. Estudantes universitários terão suas vestes selecionadas conforme o curso. A saia plissada, aquela que foi muito comum dos anos 1960 para trás, voltará com tudo, podendo ser usada por mulheres de todas as idades, inclusive as que já se formaram. Aguardaremos legislação sobre o comprimento mais adequado para cada ambiente, a idade da mulher e a classe social. Para os rapazes, terninhos seriam de bom-tom. Depois, cada categoria profissional terá seu uniforme, tudo de acordo com a ocupação, o nível hierárquico e o sexo.

Temos observado muitas dúvidas e desentendimentos sobre esta e outras questões que poderão ser resolvidos com medidas simples e eficazes, como essa demanda no sul do país. A própria Língua Portuguesa será beneficiada, uma vez que discussões infrutíferas sobre linguagem inclusiva e pronome neutro seriam sumariamente descartadas do horizonte político. Chega de polêmicas! Muitos conflitos familiares e escolares acabarão junto com as medidas de proibição do nudismo e a regulamentação do vestuário.

O nudismo resulta em orgias, safadezas, troca de sexo, liberdades inoportunas e indecentes? Ah, as ironias! Livros, filmes e revistas foram censurados e destruídos; aulas e professores, reprimidos sob o argumento de se evitar a propagação de ideias contrárias ao moralismo e ao modelo patriarcal que ainda predomina no país. Isso, sim, é imoral. Vamos ao que interessa?

Renato Muniz B. Carvalho

 

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