ARTICULISTAS

Analógico ou digital?

Renato Muniz
Publicado em 10/02/2025 às 18:43
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O momento atual nos lança desafios diários. É difícil de percorrer sem arranhões. Se você não quiser se arriscar, melhor entregar os pontos. Quando eu cheguei por aqui, me preveniram: cuidado com o mundo! Disseram que ele estava cada vez mais louco, descontrolado, irascível. Enquanto existir uma folha em branco, vamos em frente. Mas o fim está próximo. Da folha de papel.

Existe um bom motivo para preencher a folha: viver. Faça uma pintura e deixe uma mensagem para as gerações futuras. Um recadinho serve. Pode ser a lápis, caneta, carvão, giz de cera, lágrimas ou sangue. Se quiser, imprima. Há um aviso na boca da impressora: “economize papel, o meio ambiente agradece”. Complicado.

Se não tivesse doado minha velha máquina de escrever para o museu municipal, estaria escrevendo este texto nela. Não vou chorar o leite derramado. Nem leite condensado nem leite em pó. Leite de caixinha é tão leite quanto o que sai das tetas das vacas? Fico pensando no que pensam as vacas quando a ordenhadeira mecânica se aproxima. Elas podem se recusar a fornecer o precioso líquido? “Nenhuma gota para a máquina!”, uma delas poderia gritar num protesto contra a desumanização do rebanho.

Uma das coisas que mais me espantou no mundo foi quando descobri que as chuvas dos filmes eram de mentira. Foi decepcionante, tipo descobrir que Papai Noel não existia, só que eu já era adulto, cara estudado, namorava, frequentava botecos. Onde já se viu inventar chuva? Pra mim, segundo ensinou meu avô, a chuva era sagrada, já Papai Noel era parte de uma tradição pagã. Pra vocês verem o tamanho da minha indignação.

E abraço? Abraço na roça é “manda um abraço pra fulano, pra sicrana”. Nas cartinhas que enviávamos e recebíamos, o abraço era longo, afável, bem-comportado: “receba um abraço afetuoso deste que muito a estima”. Oba! Abraço bom é ao vivo: fofo, almofadado, tenro, sensível. Prefiro analógico. É esquisito escrever ao final da mensagem eletrônica: “um forte abraço pra você”. Mas é sincero. O digital? Prefiro não comentar, fica feita a referência e está bom demais. Vou ali abraçar alguém, alguém de verdade, de carne e osso, e já volto.

Outro dia, fiz uma viagem para um lugar frio e fiquei entusiasmado quando soube que o local onde me hospedaria tinha lareira. Só que era uma lareira digital. Eu, que nunca tive uma casa chique com lareira, me decepcionei. Deu vontade de voltar. Era minha oportunidade de ler um livro ao pé da lareira, mas ela era eletrônica. O livro também, kkkkkk. A lenha crepitava, juro! Dava pra sentir o calorzinho, mas não era a mesma coisa, se é que me entendem. “Lareira ecológica”, estava escrito numa língua estranha. Dava vontade de atirar uma pedra, mas só tinha pedra digital, de mentirinha. Aí vem você e me pergunta se sou analógico ou digital.

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