ARTICULISTAS

As folhas caem...

Este ano, o frio chegou antes do inverno. Veio na frente, anunciando a estação...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 17/07/2016 às 10:46Atualizado em 16/12/2022 às 18:05
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Este ano, o frio chegou antes do inverno. Veio na frente, anunciando a estação que se aproximava, mas pegou as pessoas desprevenidas. Aos poucos, trouxe as mudanças. Quando o período mais frio do ano começou, oficialmente, a natureza já estava preparada. É que a natureza não dá bola para essas questões oficiais, não é chegada em burocracias. Nessa época, muitos animais reduzem o metabolismo, as madrugadas ficam mais frias, as águas diminuem e o ar fica mais seco. Algumas pessoas não percebem as transformações, outras observam sinais no próprio corpo, no cotovelo, nos dedinhos do pé, no joelho, na pele. Outros, sequer têm tempo de se preocupar com essas coisas ou não se importam.

As árvores percebem a chegada do inverno. Só não tenho certeza, mas como são sábias, se preparam para resistir aos meses de pouca água, ao vento frio e aos maus tratos. Ora, os maus tratos nunca são esperados, e não fazem parte das mudanças naturais do clima. Estão incluídos no rol das péssimas atitudes sociais, das atividades políticas negativas, do comportamento inadequado que caracteriza tanta gente.

Para infelicidade dos fiscais de posturas, dos pessimistas e dos moralistas de plantão, não há uma estação igual à outra, um ano igual ao outro. Nuns chove mais, noutros chove menos, variando ano a ano. Têm invernos mais rigorosos e verões mais quentes ou mais amenos. Por isso, em meteorologia é preferível falar em previsão, em tendência, nunca em certezas absolutas. No dia em que marcarem dia e hora pra chover vou-me embora para outro planeta, a vida aqui haverá de ficar muito chata. Bom mesmo é ser pego desprevenido, é correr da chuva, é esquecer o guarda-chuva, é sentir frio e procurar alguém especial pra ficar bem juntinho e ver se esquenta... O clima! É claro que existem emoções mais radicais, mas a vida também é feita das pequenas emoções do dia a dia.

As árvores são mais serenas e melhor preparadas do que nós para as transformações climáticas. Seu metabolismo aperfeiçoou-se com o tempo maior de vivência sobre a Terra. Gosto de pensar que elas sabem quando liberar as sementes, quando deixar brotarem as flores, com sua beleza única, quando atrair os insetos, quando convidar as abelhas para a polinização, quando abrigar as aves nos seus galhos, quando acolher as pessoas cansadas e encaloradas debaixo de sua copa frondosa. Pois é!

As pessoas têm muito que aprender com as árvores, essas distintas senhoras folhosas. Aprender sobre diversidade, para tanto bastaria observar melhor a imensa variedade de espécies, e, em cada espécie, as infinitas formas, as cores, os tamanhos, as flores e os frutos. Poderiam compreender melhor as mudanças por que passam os seres vivos, seus ciclos e o encanto de suas existências. Aprender que há o tempo em que as folhas caem, mas depois surgem as flores. Que o digam os ipês floridos!

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