Eu tenho um amigo que só sai de casa depois de ler todas as notícias. Ele prefere os jornais
Eu tenho um amigo que só sai de casa depois de ler todas as notícias. Ele prefere os jornais impressos, mas o meio eletrônico também cumpre bem a tarefa. Segundo ele, as redes sociais têm um papel importante na informação do público, pois refletem e ampliam as principais discussões, as polêmicas, os grandes dramas e as insatisfações, sem falar das paixões e dos sentimentos singelos, que são imprescindíveis nos dias atuais. Ele considera os noticiários da televisão superficiais e acha que alguns são muito tendenciosos. Julga as pessoas incapazes de pensar por conta própria, mas, de qualquer forma, cutucando aqui e ali, bisbilhotando algumas páginas acolá, ele diz que chega a alguma conclusão que preste.
Então, depois de tomar um cafezinho, comer uma fruta e ler as notícias, ele está pronto para sair de casa. Pronto é modo de dizer. Para falar a verdade, nunca estamos prontos! Sabe-se lá o que vai acontecer lá fora.
Quando ele presta muita atenção nas colunas policiais, acredita que o melhor é se trancar em casa e jogar as chaves fora. Amedrontado, acha que corre sério risco de assalto, de sequestro, de extorsão e outros tantos termos mais sofisticados, igualmente apavorantes. Ainda bem que as centenas de câmaras espalhadas por toda a cidade, vigiando cada passo do cidadão, vão intimidar a ação dos bandidos ou, no mínimo, vão identificar quem roubou, trucidou e matou. O resto...
Se o que chama sua atenção são os comentários sobre a economia, ele fica arrasado. Sente-se à beira da falência, o mais pobre indivíduo do mundo, depois das esquálidas crianças africanas e dos refugiados sírios, é claro! Já me confidenciou que pensou em propor sociedade ao malabarista da esquina. Dividiriam os malabares em troca de umas moedinhas. Creio que se refere aos malabarismos sobre os quais leu hoje cedo. Eu digo a ele que é melhor ignorar o noticiário econômico e seguir em frente.
E a falta d’água? A seca? As mudanças climáticas? As doenças incuráveis, o câncer, o Alzheimer, o ebola... O mundo está perdido! Daí, ele só saí de casa depois de desinfetar bem as mãos com álcool gel.
Das seções que tratam da política é de onde vêm as piores notícias. Ainda bem que agosto terminou sem nenhuma tragédia! Ele fica consternado com certos políticos. Como são bonzinhos, preocupados com o sofrimento do povo! Abnegados! Pena que ele já nem se lembre mais em quem votou. E, se lembrasse, nem saberia por quê. Fica confuso é com os que pedem a volta da ditadura militar, ou com os energúmenos que se prestam a apoiar, enroladinhos em bandeiras e fricotes, os interesses escusos e inconfessáveis de espertalhões.
Segundo sua experiência, a previsão do tempo e o horóscopo nunca falham. Como ele disse que hoje vai chover o dia todo, vou molhar minhas plantas que dá mais certo.