Qual é o seu horizonte? Até onde você se dispõe a ir? A pergunta é pertinente nestes tempos em que muita gente prefere ficar sentada no sofá, na frente do computador ou do celular, em que muita gente não sabe que direção seguir, sem contar os que preferem o naufrágio. Sim, a opção pelo retrocesso é como ter diante de si inúmeras possibilidades, infinitos caminhos abertos, e não ir, regredir, refugar. Tempos curiosos!
Abra a janela, o que você vê? Até onde sua vista alcança? O Sol, a Lua, as estrelas, uma montanha, um carro em movimento, uma criança brincando, um cachorro perambulando, um jardim florido, árvores frondosas, um livro, pessoas felizes… Não me venha dizer que tem um prédio impedindo sua visão, um muro, um obstáculo intransponível. Vai ficar aí, impassível? Está esperando o quê?
Você dá um passo e vê o horizonte vasto e plano do Cerrado, o contorno das montanhas de Minas Gerais, a vastidão da Floresta Amazônica e a linha do mar muito além de onde as ondas se quebram na praia. Qual é sua expectativa? Qual é o tamanho da sua vontade de enxergar o mundo? Não se trata de uma questão de ótica, de acuidade visual, mas de disposição para enfrentar o que se apresenta à frente, ao longo da jornada, longa jornada vida afora.
Você abre um livro e entra na estória, se envolve e se emociona? Você participa do enredo como se fizesse parte da trama? Interage e conversa com as personagens? Não se constranja, muita gente boa faz isso, abre um livro, começa a ler e já está refletindo sobre outros mundos, outras vidas, outras paisagens, diversas oportunidades, reflexões sobre você, sua vida, seu trabalho. A leitura descortina estradas, desvenda trilhas, contrapõe atalhos, corredores… Abrir um livro exige certo esforço, nada exagerado. Passe uma página, depois outra, concentre-se, mergulhe na trama e, de repente, você ultrapassou seus limites. Sem pensar duas vezes, carrega o livro consigo por todo lugar, aproveita cada instante livre.
Você só não vai até onde a vista alcança se não se permitir essa ousadia, se não tiver imaginação ou se outros não deixarem. Existem muitos caminhos fechados, proibidos, censurados e interditados. O medo e a ignorância são entraves preocupantes. Hoje, por incrível que pareça, é muito comum ver quem não ousa avançar rumo ao futuro e te puxa para trás, segura suas pernas, apaga as luzes, te impede de descobrir e de construir novas trajetórias, de tecer novos argumentos, novas teias, desatar nós para permitir olhar sem amarras para o novo mundo que virá.
Existem obstáculos no percurs pedras, tocos, toscos, visões estreitas e retrógadas. Existem ignorâncias e obsolescências. A democracia está no seu horizonte? A literatura e as artes? O amor? Na verdade, você pode ir além de onde sua vista alcança.
Renato Muniz B. Carvalho