Eu tento ser um cara moderno. Procuro ficar por dentro das novas tecnologias, não sou daqueles que desprezam a informática, a robótica e as “digitalidades”, mas não sou fanático, não sou baba-ovo. Não perco o sono se não comprei o último modelo de celular, não fico triste porque meu computador é modesto ou porque meu tablet não é tão inteligente a ponto de conversar com cachorros e imitar cantos de passarinhos com perfeição; sei lá se isso existe, aliás… Na minha concepção, coisas do passado são as máquinas de datilografia, os radinhos de pilha e os lampiões a querosene. Pior é perder o trem da história, estou fora!
Tem gente que se julga na dianteira, mas não sabe ler e interpretar um texto! Apanha pra cacete na hora de escrever um reles bilhete. Tem craque da internet que não sabe convidar alguém pra sair, não sabe avaliar um filme, não sabe a diferença entre cachaça e uísque, entre eucalipto e mangueira, entre conto e crônica. A pessoa pode ter conhecido o celular ainda no útero da mãe, mas nunca entendeu a importância de uma biblioteca pública, nunca deu um livro de presente, entretanto elogia os e-readers na primeira oportunidade e diz que tem dois! Pra quê?
Não sou rancoroso nem me sinto diminuído por conta das minhas insuficiências, mas gosto de ironias e acho indispensável o pensamento crítico. Prefiro ler um livro a varar a madrugada assistindo a todos os episódios de uma série interminável. O pior, ao final da maratona, é perceber que não tem fim, pois os produtores acharam que a série foi um sucesso e pretendem filmar continuidades. É dose! Prefiro passear num parque a acompanhar vídeos feitos por maníacos ávidos por vender patrocínios, mesmo que seja numa poltrona confortável e com uma taça de vinho. Apesar de admirar as experiências excêntricas de alguns vídeo-viajantes, prefiro ir ao boteco da esquina a ficar em casa admirando paisagens deslumbrantes na TV, rindo de perrengues em viagens que eu nunca faria ou apreciando comidas que nunca comeria.
Precursoras dos videogames, eu devia ter prestado mais atenção naquelas máquinas em que o freguês manobrava remotamente uma garra para conseguir um presentinho, uma lembrancinha qualquer. Aquelas que existiam, e ainda existem, em parques de diversão. Eu não tinha paciência e não conseguia pegar nada. Foram incontáveis e inúteis as tentativas feitas para presentear minha namorada com um ursinho de pelúcia. Mas, ao perceber minha incompetência, ela me dava um gostoso abraço e dizia: “Liga não, tem coisas mais importantes na vida!”. E não é que ela tinha razão!