RENATO MUNIZ B. CARVALHO

Bagagem

Renato Muniz B. Carvalho
Publicado em 02/01/2023 às 19:21
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Eu admiro as pessoas que conseguem viajar com o mínimo necessário, sem grandes volumes, sem malas imensas, pesadas e desajeitadas. Observo as pessoas que carregam malas pequenas e imagino o que tem lá dentro. O que precisam deve estar ali. Pouco peso há de representar menor preocupação, deslocamentos mais rápidos, leveza. Não serve para todo mundo, mas é uma boa meta.

Eu nunca consegui viajar sem levar pedaços consideráveis da minha vida. Sem exageros, não saio de viagem sem coisas que considero úteis: um analgésico, agulha e linha para costurar um botão caído, uma lanterninha… Não consigo viajar, nem que seja para a cidade vizinha, sem ter um ou dois livros comigo. E se acontecer uma pane mecânica no carro, se o motor der um piripaque e for necessário parar na estrada enquanto aguardamos socorro? Pode-se destinar um tempo para apreciar a paisagem, mas uma leitura vai nos fazer bem. Não dá para viajar sem levar um livro a tiracolo.

É necessário escolher o livro certo, isto é, o livro adequado para cada caso, para cada lugar aonde vamos, a companhia, o clima e as acomodações a nós destinadas. Se for uma viagem rápida, dois ou três dias, não dá para levar um livro de mil páginas. Se a estadia for de uma semana, um livro é pouco. Às vezes, levo comigo dois ou três livros para emprestar aos companheiros de viagem. Coisa desagradável é ler um livro com alguém te fazendo perguntas: o que você está lendo? Quem é o autor ou autora? Sobre o que é o enredo? Já corto logo o papo e digo que tenho um livro sobressalente disponível para empréstimo, desde que me seja devolvido ao final da viagem.

Se a mala estiver cheia, o livro vai à mão, junto do guarda-chuva e do casaco. Num certo sentido, livros não pesam e ainda têm a capacidade de nos fazer flutuar, dependendo do livro, é claro! Mas eu levo outros objetos além de livros e roupas. Arrumar malas exige técnicas avançadas, análise do espaço disponível, estudos de volumetria, noções de profundidade, de equilíbrio e conhecimentos avançados de arranjo harmônico do conjunto, enfim, organização e ordem. Uma mala bem-feita deve ser pensada em relação ao caminho a ser feito. Tem gente que sempre deixa alguma coisa para trás ou carrega mais coisas e sentimentos do que dá conta de suportar. Roupas, sapatos, chinelo, objetos de higiene pessoal são indispensáveis, mas muitos levam fardos pesados demais, ficam até curvados.

Uma nova jornada começa em 2023, o que é indispensável ter com você ao longo do novo ano que se inicia? Quer ampliar conhecimentos? Livros na bagagem. Quer leveza? Livros de poesia. Fortes emoções? Prefira romances. Mas sempre viaje na companhia de um bom livro.

Renato Muniz B. Carvalho

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